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Eram os antigos Archivos, então denominados sacra scrinia, conservados nos sacrarios dos templos, sob a guarda e vigilancia dos sacerdotes, com o mesmo desvelo que dispensavam ao Livro das Sibyllas em Roma. Os documentos vivos da historia patria dormiam occultos como os metaes preciosos na mina inexplorada.

O desenvolvimento da civilisação dos povos levantou essas instituições collocando-as, como centro de estudo, ao lado do interesse do Estado na parte da administração publica o do patrimonio particular do cidadão.

Não faltou quem procurasse negar a utilidade desse serviço: facil foi, porém, combater e salientar os beneficios que proveem desses depositos à administração publica, å historia e aos interesses dos cidadãos. Os sabios jurisconsultos do penultimo e do ultimo seculos, entre os quaes se salientou o Conde Merlin comprovaram que não era em França de recente data a opinião dessa utilidade, enraizada alli poderosamente, como tambem nas outras nações mais cultas do velho continente.

A indifferença administrativa, que em França soffreram os Archivos até 1834, desde a vandalica devastação dos manuscriptos antigos em 1798 parece ainda viver entre nós, e esta Repartição, que em todas as Nações cultivadas occupa um logar entre as primeiras, no Brazil tem sido considerada como simples enjeitada, balda de recursos e esquecida do nosso povo. Praza a Deus que a attenção que mereceu esse serviço no Ministerio do Conde de Persigny em França tenha aqui imitação, por pequena

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que seja; a administração publica, a historia e os estudiosos terão tudo a ganhar, e a Republica dos Estados Unidos do Brazil poderá mostrar com orgulho que o escrinio sagrado onde se guarda a sua historia viva corresponde aos seus sentimentos patrioticos.

Recognosces annalibus eruta priscis é essa a epigraphe adoptada pelo meu illustre e erudito antecessor para as Publicações do Archivo Publico Nacional.

De accordo com a phrase do laureado poeta das Metamorphoses e em cumprimento do dever que me é imposto pelo art. 38 § 15 do Regulamento approvado pelo Decreto n. 1580 de 31 de outubro de 1893, apparece hoje o 3o volume das Publicações do Archivo contendo o indice da Correspondencia da Antiga Metropole com a então Colonia, abraçando o espaço decorrido de 1763 a 1807.

Não é necessario enaltecer a utilidade da publicação desses indices; ja em acertados termos o fez o meu illustre predecessor no prefacio do primeiro volume destas Publicações:

« Na verdade : não basta que um Archivo se enriqueça de valiosos documentos e constitua um como patrimonio nacional pelas fontes authenticas, que encerre, da historia patria. Não basta, ainda, que esses documentos sejam devidamente classificados e com solicitude guardados sob as melhores condições de durabilidade. Jamais passará elle de um thesouro soterrado, si não prestar aos estudiosos, aos historiadores, aos politicos, å administração do Estado e até aos simples curiosos a utilidade que póde e deve prestar. Para isso o meio mais directo e efficaz é não só proceder a circumstanciado inventario, organisar bons catalogos e indices, como dal-os à estampa, e publicar ineditos interessantes e a noticia de tudo o que possuir de merecimento historico. >>

Esquecido este Archivo dos poderes donde deviam emanar os recursos necessarios para levar a effeito essas publicações, só no orçamento de 1883 para 1884 foram elles votados; porém com uma parcimonia de verdadeira pobreza franciscana.

Não é isento de lacunas o presente trabalho, como tambem a publicação dos dous primeiros volumes.

A falsa noção de que é o Archivo Nacional, cu melhor, a confusão que se tem feito dos fins do Archivo com o de outras instituições, o descuramento com que se tem guardado documentos officiaes (verdadeiro patrimonio do Estado) e que por ahi andam em outras repartições, desrespeitando-se a expressa determinação da lei, que ordena a sua conservação no Archivo Publico, são a causa dessas faltas.

Muitas Provisões e Cartas Regias, que deveriam aqui estar, acham-se recolhidas na Bibliotheca Nacional, causando as lacunas do indice publicado nos 1o e 2o volumes.

A Correspondencia dos Vice-Reis é completamente falha, a referente aos oito que residiram na Bahia desde o Marquez de Montalvão (1640) até o 8o D. Antonio de Almeida, Conde de Avintes e 1o Marquez de Lavradio, assim como a dos sete que passaram a sede para o Rio de Janeiro, desde o Conde da Cunha (1763) até o Conde dos Arcos (1808).

O presente trabalho, extrahido da Collecção denominada «< Correspondencia da Côrte com os Vice-Reis » formando 31 volumes in folio sendo 27 originaes, 4 registros e alguns avulsos, deve igualmente conter lacunas, porquanto ha lapsos de tempo sem correspondencia alguma, nem mesmo particular ou reservada, e falta de documentos a que se referem requerimentos remettidos aos Vice-Reis.

O volume que a este seguirà, e já em trabalho na Imprensa Nacional, conterà alguns documentos interessantes e ineditos.

Nestas duas publicações collaboraram o Chefe da 2a Secção Manoel José de Lacerda e o Archivista Eduardo Marques Peixoto.

Archivo Publico Nacional, Janeiro de 1900.

Pedro Vellozo Rebello,

Director.

1 Les Archives sont des établissements fondé par l'autorité publique et dans lesquels les titres, chartes, traités, actes administratifs et judiciaires sont déposés pour y être conservés Merlin, Repert. verb. Archives.

Archivum est quod publice auctoritate potestatem habentis erigitur. Dumoulin.

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