O valor histórico dos cronistas medievais e designadamente de Fernão Lopes

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Emprêsa Diario de Noticias, 1923 - 43 páginas
 

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Página 4 - As opiniões, os costumes, os usos, todos os modos, enfim, de existir da época em que viveu, são desconhecidos para nós; e todavia tudo isso, toda essa existência complexa de muitos milhares de homens, a que se chama nação, devia ter uma influência imensa, absoluta, naquela existência individual do homem ilustre, que o historiador acreditou poder fazer-nos conhecer com os simples extractos de quatro crónicas, cosidos com bom ou mau estilo às respectivas certidões de baptismo, de casamento...
Página 28 - Mandamos que se guarde aquello que por nos he mandado em esta razom e aqnelles que ouverem esses rescriptos mostrem nos a nos e mandar-lhos-emos publicar ou fazer citaçom por elles de guisa que se faça todo como deve e que o nosso Povoo nom receba dampno sem razom».
Página 6 - Braz da Selva Negra e dos outros mosteiros beneditinos da França e da Alemanha, que partiu o movimento intelectual da Europa nesta parte do saber humano. O que os séculos posteriores, amestrados por maior experiência, fizeram depois, foi não só* apertar mais as regras de credibilidade, então assentes, evitando, simultaneamente, todo o género de preocupações procedentes dos interesses políticos ou de incredulidade em assuntos místicos, mas ainda dirigir as indagações históricas mais...
Página 7 - Analisando a evolução da história nacional, em relação à aplicação da doutrina exposta, depara-se-nos logo uma situação verdadeiramente extraordinária, que não honra certamente as letras pátrias. Para bem a compreender convém recordar, que Herculano considerava naturalmente dividida a história portuguesa em dois grandes ciclos, cada um dos quais abrange umas poucas de fases sociais ou épocas. O primeiro é o da constituição da nossa nacionalidade; o segundo o da sua rápida decadência....
Página 6 - ... intelectual da Europa nesta parte do saber humano. O que os séculos posteriores, amestrados por maior experiência, fizeram depois, foi não só* apertar mais as regras de credibilidade, então assentes, evitando, simultaneamente, todo o género de preocupações procedentes dos interesses políticos ou de incredulidade em assuntos místicos, mas ainda dirigir as indagações históricas mais para o estudo da índole das sociedades do que para os actos dos indivíduos. Da grande revolução...
Página 21 - ... tomar hum e outro partido. Pouco, ou nada se deve achar na Historia, que venha do Author. O meio mais seguro para conservar a fidelidade, que he a sua primeira Ley, consiste na narração, sem fazer desde o principio até ao fim da obra mais que contar os factos, sem semear frequentemente máximas, e sentenças, recriminando, ou exaltando com arrogante exageração; de sorte que o Leitor se não ocupe mais que a ver as cousas, como se ellas passassem realmente deante de seus olhos, e que lhe...
Página 3 - ... transformado em um dos mais sangrentos tiranos, que a fertilidade da imaginação humana tem •descrito, ao mesmo tempo que as contas da história o apontavam como preclaro administrador dos interesses públicos ; que as próprias crónicas o representavam como austero executor da sua predilecta máxima — «Que o rei que passa um dia sem fazer cousa, com que claramente contribua para o bem dos seus vassalos, não merece esse nome» — , e que as recordações populares comemoravam a sua morte,...
Página 14 - Este estado social perpetuou-se no nosso país, muito mais além do sucedido em outras nações, graças à perniciosa fiscalização exercida pela Inquisição no domínio do pensamento. Assentando em Lisboa, Coimbra, Évora e Goa os seus inclementes tribunais, criou ela uma espécie de polícia espiritual, que estancou as fontes de toda a originalidade criadora. Servida pelos índices expurgatórios e pelas complicadas formalidades dos exames, que precediam a publicação de um livro, essa polícia...
Página 28 - Pedro I não tornou a ser posta em vigor na sua disposição genérica, senão na segunda metade do século XVIII, a propósito da expulsão dos jesuítas. Foi então que o direito de beneplácito se reconheceu formalmente como costume do reino, restabelecendo-se o estatuto de D. Pedro nas leis de 6 de maio de 1765, 28 de agosto de 1767, § 14, e 5 de abril de 1768, que estabeleceu a mesa censória (1).
Página 21 - ... ,Brochado acrescenta textualmente o seguinte: «Não he necessario por Ley precisa da Historia, que o historiador se antecipe com reflexoens, deve contentar- se com escrever as cousas, como ellas passarão sem se intrometer a julgar delias; deixe ao seu Leitor o juizo livre sem prevenir com invectivas, ou com apologias a tomar hum e outro partido. Pouco, ou nada se deve achar na Historia, que venha do Author.

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