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Nao posso dizer q.to sinto, e emq.to nao vir officiaes, e marinheiros Ingleses as ordens de S. A. R. tereis constante susto pela sorte das Cidades maritimas do Contin. Brasilico. O Times de hontem acusando Cartas do Embaixador Hespanhol em Lisboa, diz q.e Luis do Rego hia entrar antes de poucos dias em Hesp.a com hua Div.m de 8000 homens. Os Thomases, Mouras, Carnr.o & C.a nao socegao sem effectuar a reuniaõ de Portugal á Hespanha, e os Grandes da Naçao em completa apathia saõ expectadores indiferentes da sorte que se lhes prepára!! As Cortes mandárao recolher o Joao Fran.co de Ollivr.a p.a ser processado em conseq.a de ultrapassar os poderes de suas instrucçoens nas negociaçoens q.e teve com Londonderry, e Robensson. Consta-me q.e o d. Olliveira pertende publicar as instruçoens, e entao saberá o Mundo com assombro como os malvados regeneradores pertendiaõ dispor do Brasil. Eu tive meios de o saber em tempo, e a V. Ex.a avisei na m.a pr.a Carta.

Ill e Ex. S. J. B. de Andrada.

LONDRES 16 de 8br.o 1822.

Por via de Guernsey, e graças ao cuidado de meo filho recebi no dia 12 do corr. o Decreto, e Manifesto do 1o de Agosto, q.e nada deixaõ a dezejar.

Nao tive mais instante de meo p.a os fazer ver, e traduzir por todos os Cheffes de partido, e a 14 apareceraõ em todas as gazetas com o devido elogio á solidez das doutrinas, e pureza de estillo. O Manifesto teve sobre tudo hum encontro alem do q.e V. Ex.a pode imaginar; a opiniao publica em todas as classes declarou-se a favor de S. A. R., e o desprezivel Club Portug.es em Londres nao achou outra disforra senaõ dizer q.e o Manifesto fora feito pela Santa Alliança, e remetido ao Brasil para ser assignado. As gazetas como a porfia davão hontem noticias da B.a, evatecinavão a expulsão dos Portug.es the mesmo o Cronicle, q.e he pago pela facção de Lx.a. Sabendo agora q. vai largar hum navio de Liverpool, apresso-me em transmetir a V. Ex.a as gazetas inclusas, dando-lhe os parabens pelo feliz effeito do Manifesto. O Times he como V. Ex.a sabe, jornal da opoz.m e o New Times Ministerial, e nelle escreve M. Canning.

No pri. achará V. Ex.a a analize do Manifesto, e no 2. do dia 10, a profissão de fê deste Gov.o.

Taobem mando o cronicle de hontem p. causa das not.as da B.a. Quasi sempre hum bom acontecimento he acompanhado de outros, e desta vez alem do Manifesto, e Decreto recebi mais a Proclamação da Junta de Pernambuco no verdr. espirito de adhesão, e obdiencia a S. A. R, assim como a certeza de estar a exped." do Rio em Perb.o depois de haver desembarcado a Tropa nas Alagoas. Tenho hoje noticias do R.o de 23 de Agosto, da B.a de 26, de Perb." de 30, e da Parahiba de 5 de 7br.o. De toda parte respira o mesmo enthusiasmo. Para a m.a satisfação ser completa falta receber carta de V. Ex.a que me habilite a desenvolver, e empregar a favor de nossa Patria, e do Grande Principe, que nos protege, todos os meios, e recursos q.e a Europa nos offecece. D.s g.e.

Não me esqueceo remetter immediatam.e a Pariz o Decreto, e Manifesto p. q.1 certa Personagem os fizesse chegar q.to antes á Verona.

Illmo e Exmo. S. J. B. de Andrada

LONDRES 17 de Obr.o 1822.

Em virtude do conhecimento incluso mandará V. Ex.a tomar conta do Caixote de Livros, que voltou de Falmouth por não ser acompanhado de hua guia do Director da Alfandega, sem a qual formalidade, p. mim ignorada, nada podem receber os Paquetes.

Illmo e Exmo S 7. B. de Andrada

LONDRES 30 de Outbr.o 1822.

A 24 de Outubro tive a honra de receber o offi.o de V, Ex.a de 12 de Agosto acompanhando a Credencial de Encarregado de Negocios junto ao Governo Britanico, e as Instrucçõens que me devem guiar no desempenho desta commissão.

Nada podia haver mais capaz de lisongear a m.a vaidade do q.e este testimunho de plena confiança com q.e S. A. R. se dignou honrar-me, mas a vaidade, e outras paixõens,, de q.e não sou izempto, estão todas no meo coração subordinadas ao amor da Patria, e este me obriga a declarar a V. Ex.a e eu não tenho os conhecim.tos e circunstancias necessarias p.a desempenhar as funçõens diplomaticas. Franco p. caracter, e pelos habitos de m.a profissão, mal posso acomodar-me ao fingimento, o disfarce, que fas a essencia das funçoens diplomaticas, e queira Deos q.e eu as desempenhe a satisfaçaõ de V. Ex.a neste curto intervallo emq.to chega a m.a demissaõ, que V. Ex.a como bom Patriota, deve quanto antes conceder-me. Nos meos officios, e carta de Maio, e Junho pedi a V. Ex.a que Nomeasse, ou Mandasse Pessoas completam.e authorisadas, q.e eu em Agente Subalterno concorreria por meio de m.as relaçoens e amizades p.a em curto periodo arranjar se dr.o, gente, maquinas, e q.to necessario fosse p.a defeza e independencia do Brasil, V. Exa julgou-me capaz de muito mais, e nisso enganou-se. Estou prompto a perder a vida pelo Brasil, e pelo Seu Augusto Defensor, e Regente mas de modo algum posso hir contra a m.a conciencia. Estou inteiram.e convencido da ma incapacidade p.a a carreira Diplomatica, e portanto peço, e espero obter a minha demissao. Sendo este o unico objecto do presente officio, em outro direi como dei principio a m.a comissao, e quaes os resultados, que obtive.

mas

Illmo e Exmo Sr Martim Fran.co de Andrada.

LONDRES 31 de 8br. 1822.

Havendo escripto os Ex.mos Srs.rs Secretarios de Estado do Interior, Fazenda, e Guerra, como julguei ser de m.a obrigaçao, e nao havendo recebido de qualq. delles a mais leve resposta, talves consultando as regras de

prudencia, e discripçao, naõ devesse tomar o tempo a V. Ex.a com m.a escripta: prevaleçam porem as de gratidao, porq.e tal he a obrigante expozição q.e faz meo filho do favor, e acolhimento recebidos de V. Ex.,a q.e eu me apresso de manr.a q.e posso, a offerecer a V. Ex.a os votos do meo reconhecimento, e obediencia. Ha coincidencias na vida bem agradaveis: quando V. Ex.a sem me conhecer tanto honrava a meo filho no Rio, eu em Londres sem taobem conhecer a V. Ex.a sufocava, e conseguia nao se publicar a terrivel acusaçaõ mandada de S. Paulo, sofrivelm. augmentada, e corrigida no Rio, e muito recomendada de Lisboa sobre a entrada de V. Exa p.a o Menisterio.

Nao digo isto p.a allegar serviços, mas p.a dar a V. Ex.a hum praser, q.e eu mesmo experimentei, e he que ambos temos reciproca atracção, que nos liga, e nos impelle p.a o mesmo fim, o qual mediante os esforços dos bons Patriotas, e a decidida protecçaõ do Herôe Deffensor, e Delicia do Brasil, hade infalivel, e brevem.e ser conseguido. Mas grandes fins naõ se conseguem sem grandes meios, e estes consistem em tres couzas, como dizia hum Menistro de Luis 14, dinheiro, dinheiro, e mais dinheiro. Nunca houve tanta opurtunid. p.a haver dinheiro a moderado premio como agora, mas se V. Ex.a nao aproveitar o momento, pode sobrevir qualq. guerra na Europa, ou falta de pagamento da parte dos Novos Governos da America Hespanhola, e entao as condiçoens sî tornaraõ pezadas.

Minha opinião he q.e V. Ex.a levante hum emprestimo suficiente nao só p.a pagar ao Banco, e todos os credores do Estado, como p.a recunhar toda moeda falça, e firmar a defeza da Independencia Brasilica sobre bazes, que nenhum futuro acontecim.to possa derrubar.

Aproveitando a felis casualid.e de estar aqui o Ill. S. Antonio Carlos, a elle tenho comunicado certos principios de admenistração, q.e pedirião longas paginas, e nunca serião taobem expendidos como elle fará de viva voz a V.Ex.a; rogo pois a V. Ex.a que exija delle esta comunicação. O Congresso reconhecendo a necessid.e de contrahir hum emprestimo deve p.a isso authorizar o Executivo sem se intrometer no modo, e maneira de o fazer, porq.e nesta materia ha tao poucos conhecimentos nos nossos compatriotas, que athe o meo amigo Manoel Jacinto aliaz instruhido na theoria economica aberrou no seo folheto do verdadeiro caminho.

Inclusas achará V. Ex.a as observaçoens de hum Inglez taobem meo am." sobre o ref. folheto. Como porem o total do emprestimo deve ser fixo pelo congressso, convem q.e o Ministerio por todos os meios possiveis o dirija p.a fixar antes de mais do q.e de menos. Hum paiz aonde o dinr.o dá pelo menos 12 p. % de lucro deve importar (independente das circunstancias urgentes de nossa Independ.a) a maior quantid.e possivel de capitaes, q.do estes se offerecem em paiz estranho a 6 p %, e talves a menos.

Supondo q. V. Ex.a verá meos officios, e cartas particulares ao Ex.mo S.r J. B. de Andrada, naõ roubarei o tempo a V. Ex.a com a repetição dos motivos, que tornaõ a m.a rezidencia em Londres de quasi nenhua utilidade a Patria, e de completa ruina p.a mim, pelo q.e solicito demissaõ de hum emprego p.a o q.1 naõ tenho os conhecimentos necessarios, e espero q.e V. Ex.a se digne concorrer p.a o bom diferimento de tão justa suplica

Ill. e Exmo S. J. B. de Andrada.

LONDRES 7 de Novbr.o 1822.

(Secretissima e particular)

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Supondo q.e os officios dirigidos a V. Ex.a podem ser vistos por todo o Menisterio, dei nelles conta dos negocios publicos sem nenhua observação sobre as dificuldades em q.e me acho, bem como sobre as ventagens imensas, q.e a Patria perde neste momento pela ommissão de bem poucas palavras nas m.as instrucçoens. Quando contemplo o caracter franco, e sizudo de V. Ex.a, q.do observo q. a m.a maneira de pensar relativam. ao Brasil he absolutam.e conforme aos principios enunciados p. V. Ex.a nos diferentes Manifestos, e Decretos quando finalm. vejo q.e meo filho recebe o mais honorifico acolhimento de S. A. R., concluo q.e eu tenho merecido a confiança do meo Governo, e q.e por elle authorisado poderei empregar em seo benef.o todos os meios, q.e a Europa offerece. Qual foi porem a m.a surpreza lendo as instrucçoens!!!

:

Deixo em silencio a nomeaçaõ d'Encarregado de Negocios, q.e nao pode lisongear a nenhum Marechal de Campo, nao falarei tao pouco na impossibilid. de viver em Londres com seis mil crusados, sem caza p.a morar, sem Secret." && porq.e no Serviço da Patria, e do Principe todo sacrificio me he suave, mas naõ posso deixar de lamentar a m.a triste situação, como V. Ex.a verá das seguintes observaçoens.

O Ar. 2 das Instrucçoens pode ser desempenhado de dous modos, ou pelas relaçoens intimas com o Gabinete Inglez, ou pela compra dos collaboradores, e amigos do Menistro Portuguez. O 1o expediente he impraticavel p. q. o Governo Britanico so tem intimid.e com os Menistros, q.e sacrificao os interesses de sua Patria aos de Inglaterra, e p.a o 2o he preciso fazer dispezas e mesmo arriscar alguas na incerteza de proveito; o artigo porem nao authoriza p.a a menor dispeza a este respeito.

O Ar. 11. Authorisa amplam.e p.a mandar Tropas e Officiaes quando algua circunstancia occorrente em Portugal assim o exigisse, e esta authorisaçao chegava bem a ponto de evitar a 3: expediçao, q.e se prepara p.a o Brasil. V. Ex.a sabe perfeitam. q.e sem dinr.o nao se fazem sem.es expediçoens, e quando me naõ declára se eu devo saccar, ou pedir emprestado, ou emfim qual he o meio de suprir taes dispezas, parece que realm.e nao quer cousa algua, e talves p.a isso concorra a pouca concideraçaõ que tem pelo Velho Portugal. Desta pouca concideraçao muito se hade V. Ex.a arrepender, porque Portugal vai repetindo as expediçoens, Pernambuco, e Monte Video as revoluçoens, o Pará, e Maranhao unidos as Cortes, S. Paulo, Minas, e Rio com mais, ou menos dissidentes, e o Menisterio sem meios de se fazer respeitar.

O Ill. S. Antonio Carlos a vista dos acontecimentos, e do grande effeito q.e produziria a remessa de 600 marinr.os e 12 officiaes p.a guarnecer a Esquadra, q. V. Ex.a tem preparado, e evitar a repetiçaõ das humiliantes scenas do Cheffe Alamar, conveio q.e a expediçaõ de dous navios com mar.os e off.es p.a o Rio seria do maior proveito a nossa defeza, e Independencia, e quando oppuz o silencio das instrucçoens sobre dinheiro, replicou com o principio de q. q.m quer os fins, quer os meios, e hua vez que o Menisterio authorizava p.a expediçoens taobem aprovaria as dispezas. Cegou-me o meo Patriotismo, e entrei na empreza. Ja figurava na ma imaginação o triumfo

de S. A. R. vendo os Bravos q.e entravaõ no seu serviço, e bastava p.a isso 40000 £b. Naõ faltava quem mas desse a troco de Letras, ou emprestasse por 6 mezes, hua vez que eu mostrasse estar authorizado, e he justam.e isto q.e se nao encontrava nas instrucçoens. Offereci hypothecar todos os meos bens, os q.es por estarem na B.a sujeitos ao sequestro Portuguez, naõ parecerao suficientes.

Em tal apuro rompi os ajustes hontem, e confeço a V. Ex.a que este foi o mais triste dia de m.a vida, deixando de desenvolver a materia por não afligir a V. Ex.a que pela omissão de alguas palavras tornou inuteis as suas mesmas ordens.

O Art. 13. Supoem q.e o Manifesto as Naçõens basta p.a atrahir Estrangr., mas não há tal; he preciso hum privativo p.a este fim, q.o não seja extenso, e prometendo liberdade de conciencia e segurança de propriedade. Com bem pequena despeza pode o Brasil receber p. anno p.a cima de 10.000 estrangr.os

O Art. 14. Recomenda a traducção, e publicação nas principaes Gazetas de quanto convier p.a augmentar a reputação do Governo Brasiliense, e sem duvida este expediente he utilissimo em hum paiz aonde a opinião publica pode tudo, e he em geral dirigida pelas gazetas. Custa porem muito dinr." e V. Ex,a sobre isso não diz palavra.

So p.a este fim tenho gasto de m.a algibeira p.a cima de 8 mil crusados desde Dbr.o passado.

A violenta acusação contra a nomeação do S. Martim Fran.co custou-me hum presente de 82. p.a não ser publicada a despeito das triplicadas recomendaçoens de S. Paulo Rio, e Lisboa.

O Art. 18. parece salvar as omissoens citadas authorisando-me p.a as despesas extraordinarias q. forem indispensaveis a algum fim import. da m.a missão, mas como não diz o modo de achar fundos, he claro q.e tudo são palavras sem effeito.

Por ultimo não diz V. Ex.a se há Encarregados em outras Cortes p.a nos comunicarmos reciprocam.e, facilitando huns aos outros a ventagem q. qualq." tiver obtido. Não foi pequeno o meo embaraço p.a responder ao Barão de Newmen q.do me perguntou se o Ministro p.a Vienna fora nomeado conjuntamente comigo, porq. nem queria mentir, nem mostrar q.e a ignorava, e por isso respondi-Hé provavel.

Muito me tenho arrependido de ficar em Londres, porq.e se fora ao Rio teria lembrado estas dificuldades, e V. Ex.a as cortaria em tempo, mas tal foi o pezo das observaçõens do Marquez de Marialva contra a m.a viagem, q.e mudei de resolução. Versavão principalm.e na circunstancia q.e aparecendo eu no Rio excitaria contra mim a inveja dos pertend.es aos primeiros Empregos, e perderia o tempo a desfazer intrigas, e sofismas, entretanto que deixando-me em Londres desempenharia sem estorvo as ordens do Ministerio preenchendo o grande fim de segurar a Independencia de m.a Patria, e realm. assim aconteceria se não houvesse esquecido ideiar os meios de suprir as despesas. Se o Governo Inglez receber o Encarregado de Negocios, e S. A. R. não quizer, ou não poder dar mais de seis mil cruzados, será conveniente reunir o consulado, p. q.e então o ordenado daquelle Emprego, e os emolum.tos deste reunidos em hua so pessoa, poderão chegar p.a passar com rigida economia, mas sem necessid. de pedir emprestado. O Encarregado de Negocios do pobre, e velho

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