Natercia que ao mundo foi o lume, Natercia, por quem ando rodeado Ja não amostrará aquella fermosura, Aos pastores ja não fará guerra. MS. de Luiz Franco. Guerra em que o damno mais cruel s'encerra. Guerra em que maior dano s'encerra. MS. de Luiz Franco. E a causa vés aqui de que a alvorada E por esta razão esta alvorada Das outras que passárão differente Não me atrevo a dizer-te mais, que sente Alma, ha no que digo tal tormento, Que quasi esta memoria não consente. MS. de Luiz Franco. Segue depois no manuscripto: Sylvano Se a mim não engana o entendimento Soliso Não queiras renovar-me esta ferida; Em seguida continua Sylvano: TOMO III Oh mundo! qual he aquelle tão perdido, Ó mundo cruel e triste, quam perdido MS. de Luiz Franco 29 2 Continua no manuscripto este terceto: () teu contentamento e alegria, Porque, com nosso opprobrio e tua gloria, Porque, com maior mal nosso e tua gloria, MS. de Luiz Franco. D'hum possuido bem triste memoria. Do bem que nos roubaste a memoria. Se deve ter em ti certa esperança. Entre este ultimo verso, é o verso: MS. de Luiz Franco. D'hum engano penoso emfim s'alcança, se lêem no manuscripto os seguintes versos: Quem cuidára que huns fão tenros annos Qual he o peito duro que isto sente Como não te movia buma beldade. Que até as duras pedras commovêra! Como não te moveo huma tenra idade, Como não te moveo a sorte dura Dos que agora sentem sua saudade! Deixae, deixae, pastores, a verdura; Deixai, tristes pastores, a verdura; MS. de Luiz Franco. E de vós agua saia em mal tão forte, Oh! Dryas! vós, a quem Amor s'entrega, Vinde chorar comigo hum mal tão forte, Ó Driades! a quem Amor s'entrega, MS. de Luiz Franco. Pois deixa a Philomella o doce canto. Pois deixa a Philomella o alegre canto. MS. de Luiz Franco. EGLOGA XVI Sendo, como indubitavelmente é, de Camões, na minha opinião, a egloga xiv, esta, escripta no mesmo local e no mesmo estylo, é igualmente sua; e, como de um mesmo auctor, estava junta no manuscripto d'onde copiou o professor Antonio Lourenço Caminha. Ergasto nas ribeiras do Tejo, em uma area coroada de rochas, vem desafogar contra a ingratidão de Galathea, que não mostrou a mais pequena saudade pela sua ausencia, e lhe esqueceu o amor antigo; pragueja contra ella, mas termina desejando-lhe mil venturas e que só elle seja o desgraçado. Estes versos Tanto segredo alegre, tanta festa, apresentam muita similhança com est'outros da egloga : E como te não lembras do perigo, Da namorada e doce travessura. Pelos seguintes versos parece que, quando escreveu esta poesja, reinava já o pensamento de se passar á India: Buscarei com meu gado estranha terra, Ou onde a neve tem cuberta a serra. ELEGIA I Esta elegia refere-se ao degredo do Ribatejo. Compara-se n'ella a Ovidio, que, desterrado no deserto do Ponto, mitigava a aspereza do exilio com a sua Musa. A aridez da terra onde o poeta latino vegetava entre barbaros uma vida solitaria, longe da patria e das mais caras raizes que prendem o homem á terra, não tem analogia com essas encantadoras e vecejantes margens do nosso Tejo, que mais de uma vez tenho percorrido; mas quem não sabe que a saudade póde tornar os logares mais apraziveis em aridos e escabrosos, converter as flores ein abrolhos? E assim acontecia ao Poeta: Não vejo senão montes pedregosos; E sem graça e sem flor os campos vejo, Camões nos pinta a vida que levava n'estes sitios: ao romper do dia ía-se com passo carregado a um outeiro, e ahi se sentava entregando-se as suas reflexões amorosas, e vendo os barcos que desciam o rio, se dirigia ás aguas d'elle, pedindo-lhes que levassem de mistura as suas lagrimas á parte onde iam, até que elle podesse ir onde ellas chegavam. Mas não pode tantò bem chegar tão cedo, porque primeiro se lhe acabará a vida do que se acabe tão aspero degredo. Nem com a mesma morte se poderá extinguir a memoria dos seus amores; emquanto porém esta não vem cevará a sua imaginação com a gloria possuida, até que surja o dia tão desejado que ponha termo a este degredo ou o consuma a mesina morte. Temos n'esta poesia a notar duas cousas: uma, a certeza do degredo, e a outra a injustiça d'elle. Dest'arte me figura a phantasia A vida com que morro, desterrado, etc. Não póde tanto bem chegar tão cedo; Á injustiça do degredo se refere n'estés versos: Aqui me representa esta lembrança Aos montes ja, ja aos rios se queixava. Edição de 1595. Aos montes, ás altas agoas se queixava. MS. de Luiz Franco. E aquella ordem com que discorria. Edição de 1595 e MS. de Luiz Franco. Edição de 1595. Edição de 1595 e MS. de Luiz Franco. As feras por o monte procedendo. Edição de 1595. Nos soidosos versos qu'escrevia, Nos versos saudosos que escrevia, Edição de 1595 e MS. de Luiz Franco. A vida com que morro, desterrado. A vida com que vivo, desterrado. MS. de Luiz Franco. |