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o poeta do Lima de lhe ter roubado um vil engano a honra d'esta composição. e estando dedicada á dita infanta :

Caio para se ver peor tratada

Nas mãos, livre ja d'hum, d'outro tyrano.

E que, se sendo roubada foi tão aceita, apesar de lhe não ter lançado a ultima lima, agora corrigida e mais formosa vae ante a perfeição de sua alteza.

É muito interessante este soneto de Bernardes, para estabelecer a certeza de que a opinião do plagiato do mesmo de algumas obras de Camões, era contemporanea. O soneto e a composição devia ser feito antes do anno de 1577, em que falleceu aquella infanta, e quando ainda vivia Camões; mas estas duas composições só apparecem no anno de 1596, de sorte que nos deixa na mesma duvida. Se Bernardes tivesse publicado este poema em vida da infanta, seria levar a audacia ao maior auge, querendo acobertar um roubo debaixo do nome de uma tão augusta personagem, que alem d'isto podia ser juiza, pois devia saber quem era a pessoa que lhe dedicava a composição; mas como o soneto apparece posterior, podia tambem ser fabricado para fazer passar com mais força a opinião de que a composição era sua.

A dedicatoria que vem no corpo da obra na estancia Iv, principalmente os ultimos quatro versos, me parecem muito no estylo de Camões «lédo rosto » « dai o sentido hum pouco », etc., e com alguma analogia com o dos Lusiadas. As duas dedicatorias se acham em alguma contradicção; no soneto o Poeta se ufana da sua composição, que apesar de imperfeita e roubada, teve grande voga no publico, e que vae mais segura e formosa agora, não soffrendo cousa imperfeita ser dirigida a sua alteza; a outra dedicatoria porém é em estylo humilde.

Não tire o preço delle o meu defeito.

Comtudo eu não me atrevo a decidir. Faria e Sousa pretende decididamente que seja de Camões. Nas obras do Poeta vem melhoradas. Foram pela primeira vez publicadas como de Camões, por Faria e Sousa.

OITAVA VIII

Estas oitavas vem na edição de 1616 com este titulo: «Petição feita ao Regedor de hua nobre moça presa no Limoeiro da Cidade de Lisboa, por se dizer que fizera adulterio a seu marido, que era na India, feita por Luiz de Camões Faria e Sousa nega redondamente que estas oitavas fossem de Camões, e diz que devera o regedor desterrar quem assim o pensasse; não obstante, não somos da opinião do commentador, e nos persuadimos que as oitavas são do nosso Poeta, não só porque nos parece a acção digna, e d'elle o estylo, posto que mais frouxo, mas tambem porque, alem d'isto, elle tinha relações intimas com a familia do regedor.

ΟΙΤΑΓΑ ΙΧ

O assumpto d'estas oitavas (ineditas) são a fabula de Echo e Narciso; vem no MS. de Luiz Franco. São endereçadas a uma senhora; porém como não sei o auctor italiano d'onde foram traduzidas, ignoro se este endereço ou dedicatoria é do original ou do Poeta. D'esta traducção faz menção Manuel Severim de Faria na vida de Camões, bem como de outra que ainda se não descobriu, a Fabula de Byblis.

INDICE

DAS POESIAS CONTIDAS N'ESTE VOLUME

SONETOS

A chaga que, Senhora, me fizestes.
Acho-me da fortuna salteado.
A formosura desta fresca serra..
Agora toma a espada, agora a pena..
Ah Fortuna cruel! Ah duros Fados..
Ah minha Dinamene! assi deixaste.
Ai amiga cruel! que apartamento.
A lá en Monte Rey, en Bal de Laça.
Á la margen del Tajo, en claro dia.
Alegres campos, verdes arvoredos.
Alegres campos, verdes, deleitosos..
Alma gentil, que á firme eternidade
Alma minha gentil, que te partiste
Al pie de una verde e alta enzina.
Amor, amor, que fieres al coitado.
Amor, com a esperança ja perdida.
Amor he hum fogo que arde sem se ver...
Amor, que em sonhos vãos do pensamento.
Amor, que o gesto humano na alma escreve.

A morte, que da vida o nó desata

Aos homens hum só homem poz espanto.
Apartava-se Nise de Montano....
A peregrinação d'hum pensamento.
A perfeição, a graça, o doce geito.
Apollo e as nove Musas, descantando.
Aponta a bella Aurora, luz primeira
Aquella que, de pura castidade
Aquella fera humana que enriquece.
Aquella triste e leda madrugada..
Aquelles claros olhos que chorando.
Aqui de longos damnos breve historia
A Romana populaça proguntava...
Ar, que de meus suspiros vejo cheio.
Arvore, cujo pomo bello e brando..
A ti Senhor, a quem as Sacras Musas

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Desce do Ceo immenso Deos benino.

Ausente dessa vista pura e bella..
A violeta mais bella que amanhece..
Ay! quien dará á mis ojos una fuente..
Ayudame, Señora, á hacer venganza.
Bem sei, Amor, que he certo o que receio.
Brandas águas do Tejo que, passando...
Busque Amor novas artes, novo engenho.
Campo! nas syrtes deste mar da vida.
Cançada e rouca boz porque bolando.
Cá nesta Babylonia donde mana....
Cantando estava hum dia bem seguro.
Chara minha inimiga, em cuja mão..
Chorai, Nymphas, os fados poderosos
Coitado! que em um tempo chóro e rio.
Com o generoso rostro alanceado..
Com grandes esperanças ja cantei..
Com o tempo o prado secco reverdece.
Como fizeste, ó Porcia, tal ferida?.
Como louvarei eu, Serafim santo
Como pódes (oh cégo peccador!)..
Como quando do mar tempestuoso.
Con razon os vais, aguas, fatigando..

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Contas, que traz amor com meus cuidados.
Contente vivi ja, vendo-me isento..
Conversação doméstica affeiçoa.
Correm turbas as águas deste rio.

Crescei, desejo meu, pois que a Ventura .
Criou a natureza Damas bellas....
Cuanto tiempo ha que lloro un dia triste.
Dai-me hua lei, Senhora, de querer-vos.
D'amores de huma inclita donzella..
De amor escrevo, de amor trato e vivo
De Babel sobre os rios nos sentamos.
Debaixo desta pedra está metido....
Debaixo desta pedra sepultada..
De cá, donde sómente o imaginar-vos
Deixa Apollo o correr tão apressado.
De frescas belvederes rodeada ..

De hum tão felice engenho, produzido..
De mil suspeitas vãas se me levantão

Despois de haver chorado os meus tormentos..

Despois de tantos dias mal gastados.

Despois que quiz Amor que eu só passasse

Despois que vio Cibele o corpo humano..

De piedra, de metal, de cosa dura ..
De quantas graças tinha a natureza..

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Doce contentamento ja passado.
Doce sonho, suave e soberano..
Doces e claras águas do Mondego.
Doces lembranças da passada gloria.
Do corpo estava ja quasi forçada.
Do estan los claros ojos que colgada.
Dos antigos Illustres, que deixárão
Dos ceos á terra desce a mór Belleza
Dulces engaños de mis ojos tristes..
El vaso relusiente e cristalino..
Em Babylonia sôbre os rios, quando..
Em flôr vos arrancou, de então crescida.
Em formosa Lethea se confia.....

Em prisões baixa, fui hum tempo atado.
Em quanto Phebo os montes accendia..
Em quanto quiz fortuna que tivesse.
Em hum batel que com doce meneio
Em huma lapa toda tenebrosa..
En una selva al dispuntar del dia .

Erros meus, má Fortuna, Amor ardente.
Esforço grande, igual ao pensamento..
Espanta crescer tanto o crocodilo
Esses cabellos louros e escolhidos.
Está-se a Primavera trasladando.
Está o lascivo e doce passarinho

Este amor, que vos tenho limpo e puro.
Este terreste caos com seus vapores..
Eu cantarei de amor tão docemente.
Eu cantei jà, e agora vou chorando..
Eu me aparto de vós, Nymphas do Tejo..
Eu vivia de lagrimas isento..
Ferido sem ter cura perecia..
Fiou-se o coração, de muito isento
Foi ja n'hum tempo doce cousa amar.
Fermosa mão que o coração me aperta.
Fermoso Tejo meu, quam differente
Formosa Beatriz, tendes taes geitos..
Formosos olhos, que cuidado dais..
Formosos olhos, que na idade nossa
Formosura do Ceo a nós descida
Fortuna em mim guardando seu direito.
Gentil Senhora, se a Fortuna imiga.
Gostos falsos de amor, gostos fingidos.
Grão tempo ha ja que soube da Ventura.
Guardando em mi a Sorte o seu direito
He o gozado bem em água escrito...
Horas breves de meu contentamento.
Hum firme coração posto em ventura.
Hum mover de olhos, brando e piedoso
Huma admiravel herva se conhece....
Illustre e digno ramo dos Menezes .
Illustre Gracia, nombre de una moza.
Imagens vaas me imprime a phantasia.
Indo o triste pastor todo embebido.
Ja a rôxa e branca aurora destoucava..
Ja cantei, ja chorei a dura guerra.
Ja claro vejo bem, ja bem conheço.
Ja do Mondego as águas apparecem

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