Obras poeticas de Bocage ...: Sonetos

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Imprensa portugueza-editora, 1875
 

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Página 290 - À cova escura Meu estro vai parar desfeito em vento... Eu aos céus ultrajei! O meu tormento Leve me torne sempre a terra dura. Conheço agora já quão vã figura Em prosa e verso fez meu louco intento. Musa! tivera algum merecimento Se um raio da Razão seguisse pura! Eu me arrependo; a língua quase fria Brade em alto pregão à mocidade, Que atrás do som fantástico corria: Outro Aretino fui...
Página 209 - Em sórdida masmorra aferrolhado, De cadeias aspérrimas cingido, Por ferozes contrários perseguido, Por línguas impostoras criminado: Os membros quase nus, o aspecto honrado Por vil boca, e vil mão roto, e cuspido, Sem ver um só mortal compadecido De seu funesto, rigoroso estado: O penetrante, o bárbaro instrumento De atroz, violenta, inevitável morte Olhando já na mão do algoz cruento: Inda assim não maldiz a iníqua Sorte, Inda assim tem prazer, sossego, alento, O sábio verdadeiro, o...
Página 191 - Liberdade, onde estás? Quem te demora? Quem faz que o teu influxo em nós não caia? Porque (triste de mim!) porque não raia Já na esfera de Lísia a tua aurora? Da santa redenção é vinda a hora A esta parte do mundo, que desmaia. Oh! Venha... Oh! Venha, e trémulo descaia Despotismo feroz, que nos devora!
Página 77 - D'este mal, d'este horror sem dó, sem pena, Via dos olhos meus sumir-se o lume : Ah ! Não foi illusão tão triste scena : O monstro devorante era o Ciume, A cruel, que o pungia, era Filena.
Página 275 - Lei (sendo etherea!) ao coração penosa. Vendo sumir-me por morada umbrosa, Ah, não desmaies, a constancia aviva ; E por artes de amor, de amor oh diva, Do não gosado amante os manes gosa. Mais doce orvalho de teus olhos desça A...
Página 289 - Ao mal, que a vida em sua orgia damna. Prazeres, socios meus, e meus tyrannos! Esta alma, que sedenta em si não coube, No abysmo vos sumiu dos desenganos: Deus, oh Deus ! ... Quando a morte á luz me roube Ganhe um momento o que perderam annos, Saiba morrer o que viver não soube. 308 Dictado entre as agonias do seu transito final Já Bocage não sou ! . . . A...
Página 72 - Da idéa me extraiam de repente Mil simples, maviosas cantilenas. O tempo me soprou fervor divino, E as Musas me fizeram desgraçado, Desgraçado me fez o deus menino: A Amor quiz esquivar-se, e ao dom sagrado: Mas vendo no meu genio o meu destino, Que havia de fazer? Cedi ao fado.
Página 239 - N'esta situação desesperada veiu o dia 15 de Septembro, em que o poeta completou no carcere trinta e dons annos. No Soneto No «eu aia natalicio, pinta o sen estado: Do tempo sobre as azas volve o dia, O ponto de meu triste nascimento ; Vedado á luz do sol este momento, Furias, com vossos fachos se alumia...
Página 93 - Tu és doce attractivo, oh formosura, Que encanta, que seduz, que persuade : Enleia-se por gosto a liberdade : E depois que a paixão n'alma se apura, Alguns então lhe chamam desventura, Chamam-lhe alguns então felicidade : Qual se...
Página 14 - Vede-as com mágoa, vede-as com piedade, Que elas buscam piedade, e não louvores: Ponderai da Fortuna a variedade Nos meus suspiros, lágrimas, e amores; Notai dos males seus a imensidade, A curta duração dos seus favores: E, se entre versos mil de sentimento Encontrardes alguns, cuja aparência Indique festival contentamento, Crede, ó mortais, que foram com violência Escritos pela mão do Fingimento. Cantados pela voz da Dependência.

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