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primeiro emprego n'este paiz fôra o transmittir na lingua ingleza aos seus compatriotas a gloria e as grandezas da corôa de Portugal. Á dedicatoria segue-se um prefacio, que consta de uma noticia sobre a historia portugueza até à restauração de D. João IV, elogiando os portuguezes pela maneira com que souberam sustentar a sua independencia, á custa de grandes esforços e combates sobre inimigos poderosos. N'este prefacio, alludindo á apparição de Ourique, cita os versos de Camões a quem chama o Virgilio portuguez: «... from that action also the Virgil of Portugal Luiz de Camões (in the 53 and 54 stanzas of his third Canto) derives the bearing of the Arms of the Kingdom, wich are five small shields Azure, in a great shield Argent, left plain by his father.» E logo depois juntando a traducção d'estas estancias por Fanshaw, chama a esta versão excellente. «Wich the Right Honourable Sir Richard Fanshaw, late Embassador to Portugal, in his excellent Translation of that Heroique Poem thus renders.» Traz pelo corpo da obra estancias do nosso Poeta com a competente traducção de Fanshaw, servindo de notas ao texto.

J. MILTON,

(1667)

Milton devia ter conhecimento dos Lusiadas, não só pela traducção de Fanshaw que saíu (1655) tres annos antes da morte de Cromwell, mas ainda no original, pois conhecia a lingua hespanhola como consta dos seguintes versos feitos por Antonio Francini, Florentino, ao poeta na sua viagem á Italia:

Nel altera Babelle

Por te il parlar confuse Giove in vano,

Ch' ode oltr' alla Anglia il tuo piu degno idioma,
Spagna, Francia, Toscana, e Grecia o Roma.-

Alem d'isto um poeta elogiado pelo Tasso, de quem Milton era admirador, e de quem devia haver noticia não só pelas suas obras, mas por intervenção do Manso, amigo do poeta Italiano, com quem communicou na sua estada em Italia, devia despertar a curiosidade de ler o Epico portuguez. Estes dois versos do Lycidas de Milton:

Fame is the spur that the clear spirit doth'raise
To scorn delights and live laborious days.

pareceram ao sr. Quillinan expressar exactamente o sentimento de Camões nos dois ultimos versos da est. xcn do canto v:

Quem valorosas obras exercita,

Louvor alheio muito o esperta, e incita.

e com os mesmos versos do Epico inglez traduziu o sr. Quillinan os do portuguez.

RICHARD TWISS ESQ. F. R. S.

(1775)

TRAVELS THROUG PORTUGAL AND SPAIN IN 1772 AND 1773 BY RICHARD TWISS ESQ. F. R. S., WITH COPPER-PLATES AND AN APPENDIX. LONDON, 1775: APPENDIX N.o V. SOME ACCOUNT OF THE SPANISH AND PORTUGUESE LITTERATURE.

De folhas 375 a 386 trata de Camões e dos seus Lusiadas, servindo-se em parte das noticias, e traducção de Voltaire, e da de Fanshaw; falla na traducção de Mickle que se esperava com brevidade.

R.DO P.E MIGUEL DALLY

(1782)

No prologo da edição das obras de Camões, de Thomás de Aquino, de 1782, vem uma analyse da traducção ingleza de Julio Mickle.

O padre Miguel Dally era irlandez de nação, e muito versado na lingua grega; devia pertencer ao collegio dos Missionarios Irlandezes de Lisboa; foi um dos subscriptores para a publicação dos Lusiadas vertidos por Mickle.

HUGO BLAIR

(1783)

HUGO BLAIR, LECTURES ON RHETORIC AND BELLES-LETTRES.

LONDON, 1783. 2 VOL.

Citado por Mickle e José Agostinho de Macedo como refutando o emprego do maravilhoso dos Lusiadas. Porém se o padre Macedo tivesse

citado, como observa Mr. Quillinan, por integra a Blair, ver-se-ía que apesar d'esta critica, louva encarecidamente Camões. A sua critica porém em Inglaterra tem muito pouco peso, e a sua auctoridade póde dizer-se que é de nenhum.valor.

Hugo Blair era natural da Escocia, e foi professor de rhetorica.

'JAMES MURPHY

(1795)

TRAVELS IN PORTUGAL IN THE YEARS 1789 AND 1790. LONDON, 1795. 4.°

Descrevendo a sepultura de D. Pedro I e D. Ignez de Castro em Alcobaça traz a traducção do Episodio de D. Ignez de Castro de Camões. Ha uma traducção franceza d'esta obra por Lallemand, Paris 1797; a traducção do Episodio de que se serve é a de La-Harpe.

GEORGE STAUNTONS

(1792-94)

STAUNTONS (GEORGE) AUTHENTIC ACCOUNT OF LORD MACARTNEY'S EMBASSY

FROM THE KING OF GREAT BRITAIN TO THE EMPEROR OF CHINA

IN THE YEARS 1792-94. LONDON. 2 VOL.

Faz menção da gruta de Macau e traz uma gravura d'ella; parece-me que é a primeira vez que se reproduz esta estancia hoje tão celebrada.

SIR WM. OUSELEY

(1793)

Uma estampa da gruta de Macau, com uma descripção d'esta seguida por um soneto, feita por Eyles Irwim, Esquire, 1793.

LORD BYRON

(1806)

O satyrico Lord Byron, que com tão ridicula critica tratou os portuguezes, tinha em grande conta Camões como poeta. Conhecia no ori

ginal não só os Lusiadas, mas as poesias lyricas do Poeta, como se ve dos versos dirigidos a uma senhora, a qual brindou com um exemplar das Obras de Camões.

DR. JOHN BLACK

(1810)

THE LIFE OF TASSO, WITH AN HISTORICAL AND CRITICAL ACCOUNT

OF HIS WRITINGS, BY JOHN BLACK. EDINBOURG, 1810. 2 VOL. 4.o

Na sua vida de Torquato falla em Camões, e pretende provar que o Poeta italiano não foi imitador do Poeta portuguez, e julga que só teve conhecimento do Poema de Camões pela versão hespanhola de 1580. Não me parece esta asserção muito fundamentada, não só porque é de suppor que o Tasso preferisse ler o nosso Poeta no original, sendo-lhe isto tão facil, por saber a lingua hespanhola; mas porque achando-se em París em 1572, onde concorriam bastantes portuguezes, provavelmente devia ter conhecimento do poema dos Lusiadas, que n'esse anno se publicára.

MR. SOUTHEY

(1822)

ART. 1.o MEMOIRS OF THE LIFE AND WRITINGS OF LUIS DE CAMOENS, BY JOHN ADAMSON F. S. A. LONDON. EDINBOURG AND NEWCASTLE-UPON-TYNE. 2 VOL. CROWN 8.o 1820. -2.o O ORIENTE, POEMA DE JOSÉ AGOSTINHO DE MACEDO. LISBOA. 2 VOL.

Esta memoria de Southey sobre Camões foi inserida no vol. xxvii do Quarterly Review, Abril e Julho de 1822, por occasião do apparecimento da obra de Mr. Adamson. Consta este artigo de uma biographia de Camões, a analyse dos Lusiadas e das duas traducções inglezas de Fanshaw e de Mickle; aponta as alterações feitas pelo ultimo traductor, e termina com outra analyse do poema Oriente de José Agostinho de Macedo.

Southey conhecia, postoque não a fundo, as duas linguas peninsulares, a castelhana e portugueza; da primeira traduziu o romance de Amadis da Gaulla; e da segunda alguns sonetos de Camões. Residiu tambem por algum tempo entre nós pelos annos de 1811 a 1812.

O seu juizo critico sobre os Lusiadas é pouco favoravel, e pouco mais concede ao Poeta que facilidade de estylo; mas que valor póde este ter, quando avança a idéa disparatada que a traducção liberrima de Mickle é melhor que o original? e que conhecimento tinha da lingua portugueza aquelle que affirma, e muito ao serio, que a melhor obra escripta na nossa lingua era a auto-biographia de Vieira Lusitano, O Insigne Pintor? A mesma opinião de pouco enthusiasmo e apreço pelo nosso Poeta emitte em algumas das suas cartas e n'outros artigos inseridos no Quarterly Review.

«Uma tal insensibilidade, diz Mr. Quillinan, em um tão distincto e tão bom escriptor como Southey, só se póde attribuir a supposição que lêra, com muita incuria e de corrida, o original, e que em mais verdes annos se tivesse agradado da bombastica traducção de Mickle, a qual teria parecido nauseabunda ao seu gosto se a tornasse a ler em idade mais madura.

A leitura de Southey era immensa, porém dilatava o seu pensamento sobre uma muito vasta escala; lia com muita rapidez e de relance, por isso precipitava-se em conclusões com muita liberdade e dogmaticamente. Tinha um conhecimento geral das linguas, mas não era, rigorosamente fallando, muito profundo nas linguas grega e latina. Das linguas vivas não conhecia nenhuma radicalmente, nem a sua grammatica respectiva, excepto a propria, da qual innegavelmente era mestre. Na nossa patria, onde ha bem poucas pessoas que tenham um conhecimento litterario das linguas da Peninsula, para seguros avaliadores, seria empreza bem difficultosa o destruir um erro em que se labora julgando Southey um profundo conhecedor das linguas e litteratura portugueza e hespanhola em todo o sentido; porém os nossos litteratos estão bem ao facto do contrario. Elle podia ler livrarias inteiras nas duas linguas, mas poucas vezes conhecia que lia mal os logares intrincados, e assim julgava a lingua muito facil pelo modo leviano com que a lia. E na verdade faltava-lhe o tempo para ler de outra maneira, com as varias e interminaveis êmprezas litterarias que havia emprehendido. Assim, com o maior respeito para com o homem com quem fui pessoal e intimamente ligado desde o anno de 1821 até á sua morte, eu não dou o mais pequeno valor ao seu juizo critico sobre Camões, o qual se erguerá sempre por si só bem alto, sem o apoio de Southey ou de qualquer outro, postoque seria agradavel se podessemos enumerar Southey entre os escriptores, que com gosto têem tomado a peito honrar o genio de um Poeta, do qual Portugal com tanta rasão se vangloria.

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