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rior ao imitado, como mais de uma vez aconteceu ao nosso Poeta, não podiam prejudicar a fama do Tasso; era alem d'isto uma justa retribuição recolhendo o roubado á casa paterna, porquanto não são poucos os logares imitados pelo nosso Poeta de Bernardo Tasso, especialmente a sua primeira Ode, que até ao meio é quasi a traducção da terceira do pae do auctor da Gerusaleme Liberatta. Digo pois que me inclino a acreditar que se os Lusiadas foram traduzidos na lingua italiana no seculo XIV, o que julgo, o foram muito no fim do mesmo seculo, e depois da publicação da Gerusaleme do Tasso, pelos motivos acima apontados.

ANONYMO

(CERCA DE 1632)

Faria e Sousa, na Vida do Poeta que precede o Commentario dos Lusiadas, n.o 30, faz menção de uma antiga traducção n'està lingua: «En Italiano se començo a hazer una.» Na segunda Vida do Poeta nos Commentarios ás Rimas, acrescenta esta noticia: «Residiendo yo en Roma despues del año 1632, me dixeron alli que un Portugues le avia empeçado a poner en Italiano; pero esto no pudo constar a Mariz porque sucedió muchos años despues de su muerte.»

Não é pois esta traducção a primeira que se conjectura ter existido. e de que fizemos menção.

CARLO ANTONIO PAGGI

(1658)

LUSIADA ITALIANA DI CARLO ANTONIO PAGGI NOBILE GENOVESE. POEMA EROICO DEL GRANDE LUIGI DE CAMOENS PORTOGHESE, PRINCIPE DE POETI DELLE SPAGNE. ALLA SANTITÀ DI NOSTRO SIGNORE PAPA ALESSANDRO SETTIMO. LISBONNA, CON TUTTE LE LICENCE. PER HENRICO VALENTE DE OLIVEIRA 4658. 1 VÒL. 42.o

Nicolau Antonio diz que a primeira edição saíra no anno de 1656, mas é engano.

Seconda impressione emendata dagl'errori trascorsi nella prima. Lisbonna. Per Henrico Valente de Oliveira, 1659. Um vol. em 12.o

É precedida de uma estampa que representa Camões coroado de uma

coroa de louro, sustentando os Lusiadas nas mãos, conduzido pela Fama. No topo da estampa em um rolo ou faxa se lê o titulo: «Lusiada Italiana di Carlo Ant. Paggi», e em baixo em outras duas estas legendas: «Nec sinit acceptum Nec sinit esse meum»: o resto da estampa é allusivo á fidelidade da traducção, representada pelo emblema do sol que se reflecte em um espelho.

Depois do titulo vem a dedicatoria ao Papa Alexandre VII, e as approvações, em que entra uma de Antonio Barbosa Bacellar.

Seguem-se duas cartas em estylo dedicatorio: uma, All' Illustrissimo e Reverendissimo Signore mio Giacomo Frason, e Tesoriero Generale di Santa Chieza; e a outra, All' Illustrissimo Sig. Gio. Giorge Giustiniano. N'estas duas cartas dá o traductor uma noticia biographica do nosso Poeta, espraiando-se nos seus louvores e lamentando a sua má sorte; declara mais ter emprehendido esta traducção por occasião da sua vinda a Portugal, e ser elle o primeiro que apresenta o Poema portuguez á Italia, pela primeira vez traduzido na lingua italiana. «lo presento all' Italia la famosa, & ammirable Lusiada de Luigi de Camoens Principe de Poeti delle Spagne da me transportata nella nostra lingua con l'occasione de mia venuta á Portugallo. La fama, che la mi diede in continente alle mani, non eccedete punto, quanto al mio intendere, il merito di si grand'opra sendo tale, che cominciando a legger-se alleta, leggendo-si innamora, letta i riletta rende, si puo dir, il lettore più famelico, e digiuno, que satio», etc.

Depois das cartas vem differentes poesias do auctor, feitas a alguns fidalgos portuguezes: uma ode ao Duque de Aveiro, e quatro sonetos; o primeiro, ao Marquez de Niza D. Luiz Vasco da Gama; o segundo, ao Conde de Atouguia D. Jeronymo de Athaide; o terceiro, ao Conde de Cantanhede D. Antonio de Menezes; o ultimó, aos Academicos de Perugia.

Seguem-se alguns elogios ao traductor na lingua latina, em prosa e verso; em prosa, do Dr. João Soares de Brito; e em verso, do padre Francisco de Macedo, José da Fonseca, e Henrique do Quental Vieira, medico em Lisboa, e termina com as approvações para a impressão. Algumas, mas poucas vezes, o traductor alterou e addicionou algumas oitavas do Poema, movido por uma liberdade até certo ponto desculpavel, pois o instigava o zêlo e amor da gloria da sua patria, o que deu logar a inserir a estancia xvi do canto 1. em seu elogio:

Liguria i chiude ove il terren declina, etc.

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Na estancia 134.", canto x, emendou um erro historico do nosso Poeta, apoiado na auctoridade do jesuita o padre Martino Martini, na sua Historia de Bello Tartarico, e consistia este na asserção que o Poeta, mal informado, faz de ser electiva a monarchia chineza; Manuel Correia já tinha advertido a má informação que o Poeta obtivera sobre este assumpto, referindo-se o commentador a João de Barros Decada ш, e ao padre Fr. Gaspar da Cruz no seu Tratado da China.

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A estancia 143. é destinada a preencher o vacuo que o traductor nota, do nosso Poeta não ter mencionado o heroe genovez Colombo, tratando-se da descoberta da America. «Che si haveva de fare? Trattar-si dello scoprimento delle Indie Occidentali, e non nominare chi la scopri? nome che tutto di penne, tutte le penne ha stancate per celebrar-lo? Potrá forse parere ciò scusabile nel poeta... ma in penna Genovese sarebbe stata sceleragine publicarne il trasporto, senza rendere il dovuto honore á cosi glorioso, e celebrato Heroe della nostra patria.» As ultimas seis estancias da traducção são igualmente acrescentadas e se acham traduzidas pelo sr. Garrett; consistem em uma censura ao pouco favor que o Poeta recebeu dos seus naturaes e uma dedicatoria ao Papa Alexandre VII.

Carlos Antonio Paggi foi irmão do Bispo de Brugneto, João Baptista Paggi, e filho do celebre pintor genovez João Paggi, cuja vida se acha impressa com as Vidas dos Pintores, Esculptores e Architectos Genovezes de Rafael Soprani. Do Bispo faz menção a Italia Sacra d'Ughelli, vol. IV fl. 298, e Giustiniani na sua obra intitulada — Gli scrittori Liguri- etc., Roma 1667; e do nosso traductor se lê na citada obra de Giustiniani a seguinte noticia: «Carlo Antonio Paggi, patrizio Genovese, figlio de Gio. Baptista celebre pittore, con infaticabile applicazione se é talmente perfezionato nelle scienze, nell'arti liberali, e nella poesia, como nella varietà delle lingue, anche barbare, che ragionevolmente si puo annoverare fra primi litterati della sua nazione in questo seclo. L'opere que lo manifestano per tale, e che sono parvenute a mia notizia, han questo titulo: Lusiada Italiana de Carlo Antonio Paggi, nobile Genovese, Poema heroico del grande Luigi di Camoens Portughese, principe de Poeti della Spagna, seconda impressione etc. 1659. Enchiridion Medico astrochymicum, universalem medicinæ Theoriam complectens, ac Praxim post anatomiam restitutam, Caroli Antonii Paggii Patritii Genuensis. Ulisipone ex proelo Antonii Craesberich Mello typographia Ser. Infantis 1667.-0 Athenaeum Ligusticum a fl. 129, fallando do mesmo auctor: «Carolus Antonius,

aliis Carolus Paggius nobilis Genuensis, Jo. Baptistæ filius, in scientiis pluribus versatus, linguis diversis edoctus, Medicus, Pictor, Poeta, anotomicus magni nominis, vixit nostro seculo, ediditque Lusiadam Italicam, seu Poema heroicum quo explicat facta perclara Aloysii de Camoens Lusitani, et Enchiridion Medico-astrochymicum, universalem medicinæ Theoriam complectens, ac Praxim post anatomiam restitutam», etc.

Pelo intervallo da publicação d'estas duas obras (1658 a 1667), ambas publicadas em typographia portugueza, se vê que Paggi residiu por bastante tempo entre nós; porém não sabemos se como simples viajante, ou exercendo o emprego de medico ou pintor. Pelas poesias que precedem a sua traducção, se vê que frequentava a sociedade dos homens doutos e da côrte, sendo, ao que parece, especialmente protegido do Conde de Cantanhede. Ha exemplares da primeira edição: Livraria publica de Lisboa; da segunda, sr. Gomes Monteiro, e em Londres Museu Britannico, livraria de Mr. Heber e de Mr. John Adamson; na venda de livros de Mr. Croft vendeu-se um exemplar por 7 shillings; eu possuo um exemplar da primeira, e dois da segunda edição.

MIGUEL ANTONIO GAZZANO

(1772)

LA LUSIADE O SIA LA SCOPERTA DELLE INDIE ORIENTALI FATTA DA PORTOGHESI DI LUIGI CAMOENS, CHAMATO PER SUA EXCELLENZA IL VIRGILIO DI PORTOGALLO, SCRITTA DA ESSO CELEBRE AUTORE NELLA SUA LINGUA NATURALE IN OTTAVA RIMA ED ORA NELLO STESSO METRO TRADOTTA IN ITALIANO DA N. N. PIEMONTESE. TORINO, M.DCC.LXXII.

Esta traducção julga Thomás de Aquino ter sido feita pelo Conde Lauriani que residiu por algum tempo na côrte de Lisboa, e acrescenta que o exemplar de que se serviu para a sua traducção fôra mal escolhido, o que deu logar a enganar-se em alguns logares do Poema. O auctor d'esta versão é o advogado Miguel Antonio Gazzano, d'Alba. É em oitava rima com os argumentos de João Franco Barreto; antes do frontispicio tem uma estampa que representa a saída da esquadra de Vasco da Gama. Segue-se a dedicatoria ao Marquez D. Salvador Pez de Villa Marina. Vem depois um prologo ao leitor, seguido da vida resumida do Poeta portuguez, traduzida da edição de 1663, da qual parece que se

serviu para a traducção. No fim vem esta advertencia: «Il traduttore disaprova generalmente tutte le espressioni usate dall'autore troppo libere, si politiche, che morali; non ostante che senza offendere la fedeltá della traduzione egli abbia procurato de modificarle. >>

Foi auctor de uma historia da Sardenha, a qual, conforme a opinião do cavalleiro Cibrario, perdeu muito da sua reputação, depois que Joseph Manno publicou a sua; foi tambem Secretario d'Estado junto à pessoa do Vice-Rei n'aquella ilha. Na Bibliotheca Oltremontana, jornal que se publicava em Turim no fim do seculo passado, vem uma biographia d'este traductor. Outro artigo comprido sobre o mesmo na Storia della Poezia in Piemonte di Thomazo Vallani, Torino 1841.

O CONDE BENEVENUTO ROBBIO DE S. RAFFAELE

(1772)

Publicou em Turim no anno de 1772 um volume em oitavo de versos soltos (versi sciolti), entre os quaes se encontra uma traducção dos primeiros Cantos dos Lusiadas.

É auctor de varias obras em prosa e em verso, no juizo do cavalheiro L. Cibrario, assás mediocres.

ANONYMO

(1804)

TRADUCÇÃO EM PROSA DOS LUSIADAS. ROMA, 4804

Foi publicada na collecção dos poetas mais excellentes e de bom gosto, no tomo XIX. Começa:

«Io me acingo a cantare, e ad affidare alla fama, s'el estro onde sono animato non tradisci a miei tentativi le gesta di quelli eroi famosi, i quali sciogliendo le Vele dalle sponde della Lusitania, e dalle rive dell'occidente, spinsero le prore dilá Taprobana », etc.

Esta traducção é acompanhada de notas: tres volumes em 12.o

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