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Estava da minha parte proceder a novas tentativas de indagação, no que fui poderosamente auxiliado pelo desvelo e obsequiosa bondade dos Sr. Visconde de Santarem e Mr. Ferdinand Denis; mas sendo mallogradas as minhas tentativas, não quero comtudo deixar de apresentar as mais antigas referencias que encontrei d'esta traducção, e as minhas conjecturas sobre a sua existencia.

ANONYMO

(1612)

TRADUCÇÃO DOS LUSIADAS ·

Em uma nota de Mr. Verdier (referindo-se talvez ao Jugement des Sçavans) se diz que o Poema dos Lusiadas fôra traduzido na lingua franceza n'este anno. Entre os traductores francezes d'esta epocha de obras portuguezas deparâmos os nomes de J. B. de Glen e Bernardo Figuier, o traductor de Fernão Mendes Pinto. Ignacio Garcez Ferreira diz que fôra traduzido por um Mr. Scharron; se o foi não era o marido de M.me de Maintenon que viveu muito depois, já no fim d'este seculo.

M.LLE M. M.

(1733)

ESSAI D'IMITATION LIBRE DE L'EPISODE D'INEZ DE CASTRO DANS LE POEME

DES LUSIADES DE CAMOENS PAR M.LLE M. M. A LA HAYE ET SE VEND A BRUXELLES CHEZ J. VANDEN BERGHEN IMPRIMEUR LIBRAIRE RUE DE LA MAGDELAINE 1733

É a esta senhora que se deve o primeiro Ensaio conhecido de traducção franceza do nosso Poeta; o tocante episodio de D. Ignez não podia deixar de commover o bello sexo. Sentimos muito que guardasse o anonymo, e não poder aqui desvendar-lhe o nome aos olhos do publico. Ha um exemplar d'esta traducção na bibliotheca publica.

LOUIS ADRIEN DUPERON DE CASTERA

(1735)

LA LUSIADE DE CAMOENS POEME HEROIQUE SUR LA DECOUVERTE DES INDES

ORIENTALES TRADUIT DU PORTUGAIS PAR MR. DUPERON DE CASTERA. AMSTERDAM 1735. 3 VOL. 12.o -2.a EDIÇÃO, PARÍS 1768, 3 VOL. 12.o

Ha uma dedicatoria ao Principe de Conty, feita em verso, segue-se um prefacio e depois uma Vida de Camões, com o epitaphio latino da sepultura e o soneto do Tasso traduzido em versos francezes.

No prefacio se desculpa de ter querido desfiar o fio da allegoria do poema dos Lusiadas, que aliás pretende que o poeta explica no mesmo sentido no Canto IX, e mais claramente em algumas de suas cartas. Teria acaso o traductor conhecimento da collecção que n'este tempo existia na livraria do Conde de Vimieiro? No fim de cada canto vêem notas do traductor, nas quaes mostra bastante erudição; n'estas se esforça em rebater a critica que o seu celebre contemporaneo Mr. de Voltaire faz no Ensaio do Poema Epico ao nosso poeta.

Daremos agora as noticias biographicas que, por officiosa intervenção do sr. Visconde de Santarem, podémos obter relativas ao traductor. «Louis Adrien Duperon de Castera. Resident de France à Varsovie, né à Paris, mort le 28 août 1752 dans le 45° année, a publié plusieurs romans mediocres, et quelques écrits ridicules qui provoquerent la Satyre de l'abbé Desfontaines.>>

Cita o biographo as obras de que acima trata, depois acrescenta:

«La Lusiade de Camoens, Paris 1735-1768 in 12°, trois vol., precedée d'une vie de cet homme célèbre. Duperon convient dans sa preface qu'il peut être resté souvent au-dessous de son modêle; mais il demande qu'on lui sache gré de la bonne intention, il annonce qu'il a employé une prose poetique et nombreuse qui conserve les traits hardis et les figures de l'original; il n'a pas cependant atteint le but qu'il se proposait, car c'est surtout son style froid, trainant ou boursouflé qui faisait désirer qu'un écrivain plus habile'se chargea d'être l'interprète de ce chef d'œuvre du premier des litterateurs portugais. Duperon à sur La Harpe l'avantage d'avoir sû la langue portugaise, mais du reste c'est le seul. Parmi les notes que Duperon a ajouté à la fin de chaque chant, il en est de très singuliers, il s'efforce d'y justifier le melange si habituel au Camoens des fables du paganisme aux légendes de la Reli

gion Chrétienne 1. Pour y parvenir il pretend que Mars est Jesus-Christ, Venus la religion, Cupidon l'Esprit Saint, Bachus les demons, etc. A la bonne heure (disait, plaisamment Voltaire), j'y consens, mais j'avoue que je ne m'en étais aperçû.

SULPICE GAUBIER DE BARAULT

(1752)

'LA MORT D'INEZ DE CASTRO POUR SERVIR D'ESSAI A UNE TRADUCTION FRANÇAISE EN VERS ET COMPLÊTE DE CE FAMEUX POEME PORTUGAIS. OUVRAGE DEDIÉ ET PRESENTÉ AU ROI LE 6 DE JUIN 1735, JOUR DE LA NAISSANCE DE SA MAJESTÉ PAR SULPICE GAUBIER DE BARAULT, MAJOR DE LA PLACE DE LISBONNE. A LISBONNE, DE L'IMPRIMERIE ROYALE.

A traducção do Episodio de D. Ignez de Castro em versos alexandrinos, e a do Adamastor em oitava rima, ambas precedidas de uma dedicatoria ao Rei.

O auctor se propunha a traduzir o poema por inteiro, como declara na dedicatoria. Thomás d'Aquino elogia muito esta traducção, e diz que se imprimiram muito poucos exemplares, sendo por isso de summa raridade, conservando-se apenas um ou outro em poder de algum curioso.

D. HERMILLY ET I. FR. LA HARPE

(1776)

LA LUSIADE DE LOUIS DE CAMOENS, POEME HEROIQUE EN DIX CHANTS, NOUVELLEMENT TRADUIT DU PORTUGAIS AVEC DES NOTES ET LA VIE DE L'AUTEUR ENRICHI DE FIGURES A CHAQUE CHANT. 2 VOL. 8.o PARIS 1776

Esta traducção é precedida de uma advertencia e uma vida do poeta, no principio de cada canto um argumento em prosa, e é ornada de bellas gravuras com explicações.

1 Eu acrescentarei que o auctor d'este artigo ignorava que este Melange era usual nos auctores da idade media. Nas antigas cartas geographicas anteriores ao tempo de Camões, e que publiquei no meu Atlas, se encontra esta mistura das legendas do Christianismo com as fabulas do paganismo. (Nota do sr. Visconde de Santarem.)

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Esta versão foi feita sobre outra litteral do poema, porquanto o traductor ignorava a lingua portugueza. Veja-se sobre esta traducção Thomás José d'Aquino, Mickle, Brunet, Manuel du Libraire, Fournier, Nouv. Dict. part. de Bibliogr., Bibliot. d'un homme de gout. Tom. 1, pag. 230, Adamson, Mem. of Cam., Garrett.

MR. I. P. CLARIS. DE FLORIAN

(1784-1807)

EPISODE DE D. IGNEZ DE CASTRO. CHANT III

Esta traducção, que é em oitava rima, vem nas differentes edições das obras de Florian.

VOYAGES IMAGINAIRES, ROMANESQUES, MERVEILLEUX, ALLEGORIQUES, ETC. AMSTERDAM, 1788. 8.o

O volume xxvii começa com: «L'Isle enchantée, Episode de la Lusiade traduit de Camoens.» Tem uma bella gravura de Venus, fallando a Cupido.

CARRION-NISAS (MARIE-HENRI-FRANÇOIS
ELISABETH MARQUIS DE)

É citado como tendo traduzido fragmentos dos Lusiadas.

Carrion de Nisas, homem politico e litterato francez, nasceu em Montpellier a 17 de Março de 1777, e morreu na mesma cidade no anno de 1841. Seguiu a revolução e o imperio, e sendo encarregado pelo Imperador de levar å Imperatriz o tratado de Tilsit, na audiencia de despedida ousou aconselhar o Imperador de se conservar em principios de paz e estabilidade, apoiando o seu conselho com estes versos do Tasso:

Giunta é tua gloria al summo; e per l'innanzi

Fuggir le dubbie guerre a te conviene.

Serviu na guerra Peninsular, e esteve no estado maior de Junot em Portugal, que o encarregou de algumas partes do serviço administra

tivo do paiz. Na batalha de Vimieiro livrou Junot de cair no poder de um destacamento de cavallaria ingleza; foi elle que levou a Biblia de Belem, que foi buscar por ordem de Junot. Apresentou-se aos Bourbons, porém tendo tornado ao serviço de Napoleão, se occupou o resto da vida em trabalhos litterarios, sendo sempre vigiado pela alta policia. Escreveu varias obras e entre estas duas tragedias: Pedro Grande e Montmorency.

F. A. PARCEVAL GRANDMAISON

(1812)

LES AMOURS EPIQUES, POEME HEROIQUE EN SIX CHANTS

Esta obra compõe-se de differentes episodios ou imitações dos Epicos (Homero, Virgilio, Ariosto, Milton, Tasso e Camões): o auctor suppõe que estes poetas se reunem nos Campos Elysios, e cercados dos Manes, repetem entre si uns aos outros, os Cantos que n'outro tempo tinham composto sobre o amor. O ultimo Canto, o vi, é reservado a Ca- · mões, que o auctor elogia e emparelha com o Ariosto e o Tasso.

Le brillant Camoens, l'Arioste et le Tasse

Rivalisant d'éclat, de fraicheur et de grace
Des riches fictions ayant cueilli les fleurs
Partagerent le prix de leurs vers echanteurs;

Esta poesia foi lida a Napoleão no Instituto do Cairo, e applaudida pelo Imperador.

Ainsi je repetois vers l'été de mes jours

Des poêtes fameux les chants remplis d'amour:
Tandis qu'aux bords du Nil, le heros de la France
Des Mameluks altiers foudroyoit la puissance,
Aprivoisoit l'orgueil de ce fleuve domté
Et preparoit au loin son immortalité.

Que dis-je? à ces travaux j'associai moi-même
Mon humble nom, couvert de sa gloire suprème,
Dans mon timide vol il daigna m'enhardir,

A mes faibles essais je le vis applaudir.

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