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Em que se conte o que eles fizerão no tempo que a gouernarão do Duarte de meneses, Dom Vasco da gama conde da Vidigueira & almirante do mar Indico. E dom Anrrique de meneses per mandado do inuictissimo Rey dom Manuel de gloriosa memoria: & do muyto alto & muyto poderoso rey dom loão seu filho ho terceyro deste nome nosso senhor.

Feyto por Fernão Lopez de Castanheda.

CAPITOLO I.

De como dom Luys de meneses capitão mór do mar da India foy socorrer a fortaleza Dormuz, & de como partio pera Malaca Martim Afonso de melo coutinho.

Partido Diogo lopez de siqueyra pera Portugal, par

tiose o gouernador pera a cidade de Goa pera da hi mandar em socorro da fortaleza Dormuz a dom Luys de meneses seu irmão q estaua fazendo a fortaleza è Chaul. E chegado a Goa madoulhe ho galeão sam Dinis em q auia dir a Ormuz, & mandoulhe ho regimeto do que auia de fazer. E porque a capitania deste galeão era de Francisco de sousa tauares, de que atras fiz menção: deulhe ho gouernador em satisfação a capitania de bữa

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galé real em que ho mandou a Chaul pera adar darmada ate Dabul por capitão mór de dez ou doze fustas: & indo de caminho queimou no rio de Zinguizara & no do Betele alguas naos & cotias, huas varadas & outras carregadas de mantimentos. E chegado Fracisco de sousa a Chaul, partiose do Luys pera Ormuz, & forão coele Rui vaz pereyra, Manuel de macedo, Anrrique de macedo, capitães de galeões & Duarte dataide, Lopo dazeuedo & Pero vaz trauaços capitães das naos. E ele partido, partiose pera Goa Martim Afonso de melo coutinho que ajudaua a fazer a fortaleza, & partiose por ter a viagẽ da China pera onde auia dir. E chegado a Goa despachou ho gouernador & partio se pera Cochim leuado debaixo de sua capitania Vasco fernadez coutinho & Diogo de melo seus irmãos, & Pedrome irmão de Francisco home estribeiro mór, & coestes se auia dajutar em Cochim Ambrosio do rego que auia dir em hu jungo: & de Cochim se partio Martim Afonso pera Malaca em Abril de mil & quinhentos & vinte dous.

CAPIT VLO II.

De como ho gouernador deu a capitania de Chaul a Simão dandrade, & mãdou goardar a costa de Cambaya.

Ho

o gouernador q estaua em Goa onde auia dinuernar despois que madou ho galeão sam Dinis a seu irmão dom Luys pera ir nele a Ormuz como disse, deu a capitania de Chaul a Simão dandrade que era vindo da China, & casara per palauras de futuro com hua sua filha bastarda, & deulhe aquela capitania em casamento: o que não podia fazer pola ter Anrrique de meneses hu bo fidalgo que lha dera Diogo lopez de sequeira sendo gouernador, & polo regimento lha podia dar os primeyros tres anos por ele ser o que a fizera & não se lhe podia tirar se não por erros. E dada a capitania a Simão dandrade, partiose pera Chaul cỡ hữa armada de obra

de doze fustas que auia de goardar aquela costa das fustas de Diu, & auia dandar repartida è capitanias, de hua auia de ser capitão mór Frăcisco de sousa tauares, doutra dom Vasco de lima de Santarem, & doutra Martim correa do Algarue: & ate Chaul auia dir Simão dandrade por capitão mór, & hião nesta frota duzētos homens. E de caminho quisera Simão dandrade desembarcar em Dabul & pelejar com sete mil homes q estauão nela por lhe ho tanadar não querer dar duas galés que hi fizerão turcos: & estando ja nos bateys co sua gente pera saltar em terra ouue ho tanadar tamanho medo que lhe madou dar as galés com a seguio seu caminho pera Chaul. E chegado lá Anrrique de meneses The entregou a capitania da fortaleza pola prouisam do gouernador, porque vio q nã auia de poder fazer outra cousa, & deuia a este tepo tres mil pardaos que gastara na fortaleza com dar de comer & outras cousas de seruiço del rey de Portugal. E metido Simão dandrade na capitania da fortaleza, repartio as capitanias das fustas como trazia por regimento: & os capitães móres se forão a goardar a costa, em que fizerão muyto dano por todos aqueles rios. E acertando Martim correa dentrar no rio do Betele que he muyto fresco sayo em terra com obra de vinte cinco dos nossos: & metedose por hu espesso palmar foy assi ate chegar diante de hus grandes paços de muytos patios, jardis & varadas: & diante da porta do primeyro patio estauão assetados no chão muytos homes & molheres pobres. E saindo de dentro hů home leuantaranse todos muyto de pressa, a que primeyro chegaria a ele: mas ele deixou todos & foyse a Marti correa, & fazendolhe sua cortesia como mouro q era assentouse coele ẽ hu poyal: & ali em praticando lhe deu conta como aqles paços erão de hu grãde senhor mouro, que auorrecido das cousas do mudo viuia ali apartado & gastaua ho seu com aqueles pobres que auia & com outros, a q continuamente daua esmola de dinheiro, trigo & arroz: de que ele era o esmoler.

E nisto sayo ho proprio senhor mouro, & mostrou folgar muyto de ver os nossos, & fazedolhes muy to gasalhado : se assentou co Martim correa, com que esteue praticando ate que foy horas de se tornar á sua fusta, onde The madou duas vacas, galinhas & fruyta. E nesta pratica perguntando Marti correa ao mouro a causa porque fazia aquelas esmolas, ou que satisfação esperaua delas. Respõdeo que era tanto de sua condição fazer be que ho fazia polo gosto que nisso leuaua.

CAPIT VLO III.

Do que aconteceo a Martim correa andando darmada.

E outra vez lhe aconteceo q foy ter a hua fortaleza

despouoada onde achou hum Bramene velho que os nossos catiuarão, & polo não quererem soltar despois que foy nas fustas rogou a Martim correa que ho resgalasse por dez pardaos, & que lhe desse licença pera ir por eles. E ele lha deu juradolhe ho Bramene polas linhas que trazia ao pescoço que tornaria, & a ele não lhe daua de não tornar por ser velho & não lhe pedio ho resgate se não zombando: mas ele que jurara de verdade não ho teue assi. E auendo hu pedaço que era partido tornou co oyto galinhas ás costas: & quando os nossos ho virão ficarão espâtados de ho ver tornar, & ele pedio a Martim correa muyto perdão de não poder tornar mais cedo: & tambem que lhe perdoase de lhe não poder dar todos os dez pardaos que lhe prometera, porque por sua pobreza não podia dar mais que seys que logo tirou, & polo resto trazia aquelas oyto galinhas. E espantado Martim correa da grande verdade do Bramene, & de Goardar tam bem seu juramento: lhe não quis tomar ho dinheiro, & polas galinhas lhe deu dous panos pera se vestir, & mais hû seguro assinado por ele pera que nenhû Portugues q ho tomasse lhe fizesse mal. E coisto se foy ho Bramene muy to contente, & ele se foy

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