Nordeste

Capa
Global Editora, 4 de set. de 2015 - 256 páginas
Muito diferente da imagem que a maior parte dos brasileiros tem da região, o Nordeste, de Gilberto Freyre, é uma terra de fartura, de águas abundantes, "onde nunca deixa de haver/ uma mancha d'água:/ um avanço de mar, um rio, um riacho,/ o esverdeado de uma lagoa", como no poema de Carlos Pena Filho. Classificado pelo autor como "tentativa de ensaio ecológico", o livro retrata aquela região agrária do Nordeste que, segundo Freyre, "foi, por algum tempo, o centro da civilização brasileira". O outro Nordeste, mais conhecido pelos brasileiros, foi estudado por um outro escritor, Djacir Menezes. O Nordeste de Gilberto Freyre é o da região da monocultura da cana, sustentada pelo braço escravo, dos grandes senhores de engenho, patriarcais, de voz áspera, cujos gritos faziam tremer crianças e mulheres, mandões, ligados à terra, aos bichos, à vegetação, "o tipo mais puro de aristocrata brasileiro". Uma aristocracia quase feudal, de hábitos requintados, que sabia recepcionar, lia livros e revistas, cultivava a música em pianos. Cada propriedade era um mundo à parte, autossuficiente, dirigido pelo pater familias, como um pequeno império. Ali, modelada pela cana-de-açúcar, surgiu uma civilização original, hábitos muito peculiares, uma cozinha riquíssima em doces e comidas açucaradas, que levavam ao delírio as sinhás e os meninos, luxo nos trajes, excesso de joias nas mulheres, uma atividade sexual desregrada, que os molecotes exibiam, escandalizando os moralistas. Quando de sua publicação, Nordeste foi considerado uma novidade na obra de Gilberto Freyre, um livro eminentemente geográfico, mais simples e despojado do que as obras anteriores. O estilo, de "sabor sensual, denso, oloroso" (Manuel Bandeira), continuava o mesmo, assim como a arte de narrar do autor, com alguma coisa de romancista.

Sobre o autor (2015)

Nasceu no Recife (PE), em 1900. Iniciou seus estudos no Colégio Americano Gilreath e completou a sua formação nos Estados Unidos, onde frequentou as universidades de Baylor (Texas) e Colúmbia (Nova York). Retornou ao Recife em 1923, passando a exercer diversas atividades no âmbito da cultura e do ensino no Brasil e no exterior. Ocupou o cargo de deputado federal (entre 1946-1950), quando criou o Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais. Dedicou-se aos estudos sobre cultura e sociedade brasileiras, organizou congressos e realizou diversas conferências. Fez carreira acadêmica, de artista plástico, jornalista e cartunista no Brasil, na Europa e nos Estados Unidos. Manteve, porém, uma grande ligação com Pernambuco, em especial Olinda e Recife. Com o livro Casa-Grande & Senzala, publicado em 1933, Gilberto Freyre revolucionou a historiografia. Ao invés do registro cronológico de guerras e reinados, ele passou a estudar o cotidiano por meio da história oral, documentos pessoais, manuscritos de arquivos públicos e privados, anúncios de jornais e outras fontes até então ignoradas. Usou também seus conhecimentos de antropologia e sociologia para interpretar fatos de forma inovadora. Freyre recebeu diversas homenagens. Entre elas, em 1962, o desfile da escola de samba Mangueira, com enredo inspirado em Casa-grande & Senzala. Foi doutor pelas Universidades de Paris (Sorbonne, França), Colúmbia (Estados Unidos), Coimbra (Portugal), Sussex (Inglaterra) e Münster (Alemanha). Em 1971, a rainha Elizabeth 2a lhe conferiu o título de Sir (Cavaleiro do Império Britânico). Seu livro Casa-grande & Senzala está entre as obras essenciais para o entendimento da identidade brasileira. Freyre faleceu em 1987, aos 87 anos.

Informações bibliográficas