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especial as de seus antecessores de q muito melhor hão de tomar exempro q dos estrangeiros foy instituido q nos reynos ouuesse cronistas que fiel & particularmente screuessem os feitos dos Reys assi na paz como na guerra & os costumes & qualidades que teuerão, pera que ficassem por regimeto de seus subcesores que vissem no qos auião de seguir & do que se auião de goardar, No q eles se deuião docupar alguas oras do dia, pois tato importa a sua boa, gouernaça,, & sem duuida a isso abastaua pera per si se conselharem melhor do que muitas vezes, são conselhados, porque hi & nas historias acharão casos conformes aos em que se conselhão, em que elas como pessoas desapassionadas dão mais verdadeiros côselhos que os conselheiros, que muitas vezes errão como humanos. Do que verdadeiramente se pode colegir que a historia he muyto mais proueitosa & necessaria pera os princepes que pera os homens priuados, & conhecendo eu estes seus proueitos, por seruir a V. Alteza tomey, ho trabalho de fazer esta, do descobrimeto & conquista da India que os Portugueses fizerão, assi por mandado, do muito famoso, & bem afortunado Rey dom Manuel vosso pay, como pelo de V., A., &. pera serem diuulgadas pelo mundo as notaueis façanhas que, fizerão com ajuda de nosso Senhor neste descobrimento & conquista, de que não auia nhua lembrança se não em quatro pessoas, com cuja morte se acabaria, & sendo scritas durarião pera sempre como as dos Gregos & Romãos que ho, forão, a que estas dos. Portugueses & ás dos Barbaros tem grande & conhecida auâtage, por-que as suas coquistas forão todas per terra, assi como a de Semiramis, de Ciro, de Xerxes, do grande Alexãdre, de Iulio Cesar & doutros Barbaros, Gregos & Latinos & indo eles co suas gentes. E a da India foy feita por mar & por, vossos capitães, & co nauegação du anno & doito meses & de seis ao menos: &, não a vista de terra senão afastados, trezentas & seiscentas leguas: partindo do fim do Occidente & nauegando ate ho do Oriente sem verem mais que agoa & ceo, rodeando to

da a Sphera, cousa nunca cometida dos mortais, nem imaginada pera se fazer. Com imensos trabalhos de fome, de sede, de doenças & de perigos de morte, cơm a furia & impeto dos vetos, & passados estes se vem na India em outros despantosas & crueis batalhas com a mais feroz gente & mais sabedor na guerra & abastada das munições parela, q outra nhữa Dasia. No que tambe inuictissimo Principe se conhece a muito grade prosperidade del Rey vosso pay & vossa, que sem vos bolir de vossas casas descobristes & conquistastes per vossos capitães o que nhus Principes poderão per si descobrir nem conquistar. E sintindo eu tamanha perda como fora perderse a memoria de feitos tão notaueis que os Portugueses fizerão, & pelas mais rezões que digo me dispus a tamanho trabalho como leuey e a fazer, pera o que me ajudou muito ir à India, onde fuy co Nuno da cunha em companhia do licenciado Lopo Fernandez de Castanheda meu pay, que por mandado de V. Alteza foy ho primeiro ouuidor da Cidade de Goa. E a riqueza que lâ trabalhey por alcaçar, foy saber muyto particularmente o que ate aquele tempo fizerão os Portugueses no descobrimento & conquista da India, & isto não de pessoas quaeisquer, senão de Capitães & Fidalgos que ho sabião muyto bem por serem presentes nos conselhos das cousas & na execução delas, & per cartas & summarios que examiney coestas testemunhas. E assi vij os lugares em q se fizerão as cousas que auia descreuer peraque fossem mais certas: porq muitos scritores fizerão grandes erros no que screuerão por não saberem os lugares de que screuião. E não somente fiz esta diligêcia na India, mas ainda despois em Portugal, por não achar nela quem me disesse tanta diuersidade de cousas & tão particularmente como queria saber. E ale de me todos affirmare cõ juramento o q me disserão me derão liceça pera os alegar por testemunhas. E estas pessoas com que faley em Portugal an-dey buscado per diuersas partes, com muito trabalho de minha pessoa & gasto disso pouco que tinha: no que

gastey vinte anos, que foy ho melhor tempo de minha idade, & nele fuy tão perseguido da fortuna & fiquey tão doěte & pobre, que por não ter outro remedio com que me mantiuesse aceitei seruir hus officios na vniuersidade de Coimbra, onde no tempo que me ficaua desocupado do seruiço deles com assaz fadiga do corpo & dọ spirito acabey de compoer esta historia, que reparti em dez liuros que, offreço a V. a V. Alteza, a que Deos nosso Senhor despois de muytos & prosperos annos ficando em seu lugar ho Principe nosso Senhor, leue do senhorio da terra ao do ceo.

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Per mandado do inuictissimo Rey dom Manuel de Portugal de gloriosa memoria deste nome ho primeyro: em que se contem ho descobrimento da India per dom Vasco da Gama code da Vidigueira & almirante do mar Indico. E a guerra que fizerão os Portugueses a el rey de Calicut no tempo que forão capitães móres Francisco dalbuquerque & Duarte pacheco.

Feyto per Fernão lopez de Castanheda.

CAPITOLO I.

De como el Rey dom Ioão de Portugal ho segundo deste nome mandou descobrir a India per mar & despois por

terra.

Antes que a India fosse descuberta pelos Portugueses,

a mayor parte da especiaria, droga & pedraria dela se vazaua pelo mar roxo donde ya ter á cidade Dalexandria, & ali a comprauão os Venezianos que a espalhauão pela Europa, de que ho reyno de Portugal auia seu quinhão, que os Venezianos leuauão a Lisboa em galés, principalmente reynado nos reynos de Portugal el Rey do loão ho segundo deste nome: que como fosse de muyto altos pensamêtos, & desejoso dacrecentar seus

TOMO I.

senhorios & emnobrecelos a seruiço de nosso señor, determinou de prosseguir ho descobrimento da costa de Guiné que seus antecessores tinhão começado: porque por aquela costa lhe parecia q descobriria ho senhorio do Preste Ioão das Indias de que tinha fama: pera que por ali podesse entrar na India, donde per seus capitàes podesse mandar leuar aquelas riquezas q os Venezianos The yão vender. E coesta determinação mandou nouamente continuar este descobrimento per mar, per hữ Bertolameu diaz que foy'almoxarife dos almazês de Lisboa, que mâdou por capitão mór a este descobrimento, em que descobrio aqle muyto grande & espantoso cabo dos antigos não conhecido: que agora se chama Cabo de boa Esperança, & passou auante cento & corêta legoas ate ho rio do Iffante, & da hi se tornou pera Portugal sem achar nouas do Preste joão nem da India: & naquela viagem pos em certos lugares algus padrões q leuaua com cruzes & as armas reaes de Portugal. E ho derradeyro foy & hu ilheo perto da terra firme quinze legoas atras deste rio do Iffante, a q pos nome ho ilheo da Cruz. E despois da partida deste Bertolameu diaz, como el Rey tinha muytos grades desejos de descobrir ho Preste joão das Indias pera ho conhecer por amigo, & por sua causa ter etrada na India, determinou de ho mandar descobrir por terra: por onde ja tinha mandado hu frey Antonio de Lisboa frade de sam Francisco & hu leigo q chegarão ate Ierusale & da li se tornarão por não sabere a ligoa Arabica. E pera este descobrimeto da terra escolheo hû criado seu que auia nome Afonso de payua natural de Castelo branco, & outro chamado Pero de couilhaa natural de hüa vila deste nome: & a este disse em segredo q esperaua dele hû grande serui, ço, porq sempre ho achara bo seruidor & leal, & muyto ditoso nos seruiços q the tinha feytos. E ho ê q queria ho seruisse, era ire ele & Afonso de payua descobrir & saber do Preste Ioão, & onde achauão a canela & a especiaria q ya da India a Veneza por terra

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