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DE

LUIZ DE CAMÕES

"

PRECEDIDAS DE UM ENSAIO BIOGRAPHICO

NO QUAL SE RELATAM

ALGUNS FACTOS NÃO CONHECIDOS DA SUA VIDA

AUGMENTADAS

COM ALGUMAS COMPOSIÇÕES INEDITAS DO POETA

PELO

VISCONDE DE JUROMENHA

VOLUME VI

LISBOA

IMPRENSA NACIONAL

1869

1238589

PQ

9195

.AI

1860

5-7

Á MEMORIA DE VASCO DA GAMA E CAMÕES

Et hor quella del colto, e buen Luigi

Tant'oltre stende il glorioso volo

Che i tuoi spalmate legni andar men lunge.

Tora. Tasso-Soneto a Camões.

Eis mais uma vez sáe dos prelos, já cansados de o reproduzirem, o poema immorredouro, que legou á posteridade, com a da nação que ditosa vos deu o ser, a vossa mutua gloria. Se, ardido navegador, foste devassar o berço da aurora, quebrando os cancellos com que o vedava á Europa o terrivel gigante, o teu cantor, Gama illustre, seguindo o rastro das quilhas de teus frageis lenhos, foi ainda alem da Taprobana, na parte mais extrema das conquistas portuguezas, cantar, ao som das encapelladas ondas dos mares da China, o poema escripto com o seu sangue, humedecido com as lagrimas da desventura, molhado e salvo das ondas do naufragio lastimoso.

E se com o teu feito, e com os teus aguerridos argonautas foste estender mais largo horisonte para as proezas guerreiras dos soldados, já exercitados nos campos africanos; se ao abrigo da cruz abriste tantas regiões á luz da fé e da civilisação, communicando-as pelo commercio e trato com o antigo continente; o teu vate, capitão audaz, no seu poema, reproduzido por mais de quatorze linguas estranhas, revela ao mundo que alargaste

os effeitos e importancia de tua arrojada empreza, e o valor e heroicos feitos do pequeno povo que a poz por obra.

Povo pequeno de gigantes! E quanta gloria não irradiou de teu solo abençoado! E que vastas regiões descobertas! tão vastas, que nunca as abandonava o sol, quer surgisse do seu berço de perolas, quer se elevasse gigante, quer repousasse no seu leito roxeado!

Aqui te vejo, nação generosa, abroquellando a Europa do poder ottomano, acolá roubando á soberba Veneza o seu lucrativo commercio, tuas armas sempre vencedoras, e tua alliança e amisade sempre amada e sempre temida; na terra brotando de cada pegada tua um triumpho; no mar tremendo debaixo de teus pés o elemento vario e indomavel.

Mas caíste! Caiste porém como cáem os bravos no leito de honra, no campo de batalha! E se a tua gloria se eclipsou por algum espaço, após o tempo de uma grande catastrophe, bastou que encarasses de vontade o teu passado para que esta resurgisse, e quebrasses grilhões de sessenta annos, justo castigo pela tua indifferença pela causa publica; bastou que olhasses de vontade mais tarde para esse passado para arrojares para alem dos Pyrineos as aguias rapaces que ousaram pairar sobre o teu solo; e o primeiro capitão do seculo fez justiça ao teu valor, sentiu o peso do teu braço.

Resurgiste! Venceste, porque não tinhas renegado o teu passado, não tinhas cuspido nos brasões de teus avós! Bastou o seu exemplo para accordar os teus brios adormecidos, o canto do teu bardo para inflammar o coração de teus soldados! Mas se hoje, que o direito internacional europeu tolera que se disponha da independencia dos povos, como dadiva do conquistador; que á força bruta cede o passo a verdadeira civilisação.

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