Imagens da página
PDF
ePub

VI

Entre a zona, que o Cancro senhorea,
Meta septentrional do Sol luzente,
E aquella, que por fria se arrecea
Tanto, como a do meio por ardente,
Jaz a soberba Europa, a quem rodea,
Pela parte do Arcturo e do Occidente,
Com suas salsas ondas o Oceano,
E pela Austral, o mar Mediterrano.

VII

Da parte donde o dia vem nascendo,
Com Asia se avizinha: mas o rio,
Que dos montes Rhipheios vai correndo
Na alagoa Meotis, curvo e frio,

As divide, e o mar, que fero e horrendo
Vio dos Gregos o irado senhorio,
Onde agora de Troia triumphante

Não vê mais que a memoria o navegante.

VIII

Lá onde mais debaixo está do polo,
Os montes Hyperboreos apparecem,
E aquelles onde sempre sopra Eolo,
E co'o nome dos sopros se ennobrecem:
Aqui tão pouca força tem de Apollo
Os raios, que no mundo resplandecem,
Que a neve está contino pelos montes,
Gelado o mar, geladas sempre as fontes.

IX

Aqui dos Scythas grande quantidade
Vivem, que antiguamente grande guerra
Tiveram sobre a humana antiguidade
Co'os que tinham então a Egypcia terra:
Mas quem tão fóra estava da verdade,
(Já que o juizo humano tanto erra),
Para que do mais certo se informara,
Ao campo Damasceno o perguntara.

X

Agora nestas partes se nomea
A Lappia fria, a inculta Noruega;
Escandinavia ilha, que se arrea
Das victorias, que Italia não lhe nega.
Aqui, em quanto as aguas não refrea
O congelado inverno, se navega
Hum braço do Sarmatico Oceano,
Pelo Brusio, Suecio e frio Dano.

XI

Entre este mar e o Tanais vive estranha
Gente, Ruthenos, Moscos e Livonios,
Sarmatas outro tempo; e na montanha
Hercyna, os Marcomanos são Polonios.
Sujeitos ao imperio de Allemanha

São Saxones, Bohemios e Pannonios,
E outras varias nações, que o Rheno frio
Lava, e o Danubio. Amasis e Albis rio.

XII

Entre o remoto Istro e o claro estreito,
Aonde Helle deixou co'o nome a vida,
Estão os Thraces de robusto peito,
Do fero Marte patria tão querida,
Onde co'o Hemo, o Rhodope sujeito
Ao Othomano está, que submettida
Byzancio tem a seu serviço indino;
Boa injuria do grande Constantino!

XIII

Logo de Macedonia estão as gentes, quem lava do Axio a agua fria:

A

E vós tambem, ó terras excellentes
Nos costumes, engenhos e ousadia,
Que creastes os peitos eloquentes,
E os juizos de alta phantasia,

Com quem tu. clara Grecia, o ceo penetras,
E não menos por armas, que por letras.

XIV

Logo os Dalmatas vivem; e no seio,
Onde Antenor já muros levantou,
A soberba Veneza está no meio

Das aguas, que tão baixa começou.

Da terra hum braço vem ao mar, que, cheio De esforço, nações varias sujeitou;

Braço forte de gente sublimada,

Não menos nos engenhos, que na espada.

XV

Em torno o cerca o Reino Neptunino,
Co'os muros naturaes por outra parte:
Pelo meio o divide o Apennino,
Que tão illustre fez o patrio Marte:
Mas despois que o porteiro tem divino,
Perdendo o esforço veio e bellica arte:
Pobre está já da antigua potestade:
Tanto Deos se contenta da humildade!

XVI

Gallia ali se verá, que nomeada
Co'os cesáreos triumphos foi no mundo,
Que do Séquana e Rhodano he regada,
E do Garumna frio e Rheno fundo:
Logo os montes da Nympha sepultada,
Pyrene, se alevantam, que, segundo
Antiguidades contam, quando arderam,
Rios de ouro e de prata então correram.

XVII

Eis-aqui se descobre a nobre Hespanha,
Como cabeça ali da Europa toda;
Em cujo senhorio, e gloria estranha
Muitas voltas tem dado a fatal roda:
Mas nunca poderá, com força ou manha,
A fortuna inquieta pôr-lhe noda,
Que lha não tire o esforço e ousadia

Dos bellicosos peitos, que em si cria.

XVIII

Com Tingitania entesta, e ali parece
Que quer fechar o mar Mediterrano,
Onde o sabido Estreito se ennobrece
Co'o extremo trabalho do Thebano.
Com nações differentes se engrandece,
Cercadas com as ondas do Oceano;
Todas de tal nobreza e tal valor,

Que qualquer dellas cuida que he melhor.

XIX

Tem o Tarragonez, que se fez claro
Sujeitando Parthenope inquieta;
O Navarro, as Asturias, que reparo
Já foram contra a gente Mahometa;
Tem o Gallego cauto, e o grande e raro
Castelhano, a quem fez o seu planeta
Restituidor de Hespanha e senhor della,
Betis, Leão, Granada, com Castella.

XX

Eis-aqui, quasi cume da cabeça

De Europa toda, o reino Lusitano,

Onde a terra se acaba e o mar começa,
E onde Phebo repousa no Oceano.
Este quiz o Ceo justo, que floreça
Nas armas contra o torpe Mauritano,
Deitando-o de si fóra; e lá na ardente
Africa estar quieto o não consente.

« AnteriorContinuar »