Entre a zona, que o Cancro senhorea, Meta septentrional do Sol luzente, E aquella, que por fria se arrecea Tanto, como a do meio por ardente, Jaz a soberba Europa, a quem rodea, Pela parte do Arcturo e do Occidente, Com suas salsas ondas o Oceano, E pela Austral, o mar Mediterrano.
Da parte donde o dia vem nascendo, Com Asia se avizinha: mas o rio, Que dos montes Rhipheios vai correndo Na alagoa Meotis, curvo e frio,
As divide, e o mar, que fero e horrendo Vio dos Gregos o irado senhorio, Onde agora de Troia triumphante
Não vê mais que a memoria o navegante.
Lá onde mais debaixo está do polo, Os montes Hyperboreos apparecem, E aquelles onde sempre sopra Eolo, E co'o nome dos sopros se ennobrecem: Aqui tão pouca força tem de Apollo Os raios, que no mundo resplandecem, Que a neve está contino pelos montes, Gelado o mar, geladas sempre as fontes.
Aqui dos Scythas grande quantidade Vivem, que antiguamente grande guerra Tiveram sobre a humana antiguidade Co'os que tinham então a Egypcia terra: Mas quem tão fóra estava da verdade, (Já que o juizo humano tanto erra), Para que do mais certo se informara, Ao campo Damasceno o perguntara.
Agora nestas partes se nomea A Lappia fria, a inculta Noruega; Escandinavia ilha, que se arrea Das victorias, que Italia não lhe nega. Aqui, em quanto as aguas não refrea O congelado inverno, se navega Hum braço do Sarmatico Oceano, Pelo Brusio, Suecio e frio Dano.
Entre este mar e o Tanais vive estranha Gente, Ruthenos, Moscos e Livonios, Sarmatas outro tempo; e na montanha Hercyna, os Marcomanos são Polonios. Sujeitos ao imperio de Allemanha
São Saxones, Bohemios e Pannonios, E outras varias nações, que o Rheno frio Lava, e o Danubio. Amasis e Albis rio.
Entre o remoto Istro e o claro estreito, Aonde Helle deixou co'o nome a vida, Estão os Thraces de robusto peito, Do fero Marte patria tão querida, Onde co'o Hemo, o Rhodope sujeito Ao Othomano está, que submettida Byzancio tem a seu serviço indino; Boa injuria do grande Constantino!
Logo de Macedonia estão as gentes, quem lava do Axio a agua fria:
E vós tambem, ó terras excellentes Nos costumes, engenhos e ousadia, Que creastes os peitos eloquentes, E os juizos de alta phantasia,
Com quem tu. clara Grecia, o ceo penetras, E não menos por armas, que por letras.
Logo os Dalmatas vivem; e no seio, Onde Antenor já muros levantou, A soberba Veneza está no meio
Das aguas, que tão baixa começou.
Da terra hum braço vem ao mar, que, cheio De esforço, nações varias sujeitou;
Braço forte de gente sublimada,
Não menos nos engenhos, que na espada.
Em torno o cerca o Reino Neptunino, Co'os muros naturaes por outra parte: Pelo meio o divide o Apennino, Que tão illustre fez o patrio Marte: Mas despois que o porteiro tem divino, Perdendo o esforço veio e bellica arte: Pobre está já da antigua potestade: Tanto Deos se contenta da humildade!
Gallia ali se verá, que nomeada Co'os cesáreos triumphos foi no mundo, Que do Séquana e Rhodano he regada, E do Garumna frio e Rheno fundo: Logo os montes da Nympha sepultada, Pyrene, se alevantam, que, segundo Antiguidades contam, quando arderam, Rios de ouro e de prata então correram.
Eis-aqui se descobre a nobre Hespanha, Como cabeça ali da Europa toda; Em cujo senhorio, e gloria estranha Muitas voltas tem dado a fatal roda: Mas nunca poderá, com força ou manha, A fortuna inquieta pôr-lhe noda, Que lha não tire o esforço e ousadia
Dos bellicosos peitos, que em si cria.
Com Tingitania entesta, e ali parece Que quer fechar o mar Mediterrano, Onde o sabido Estreito se ennobrece Co'o extremo trabalho do Thebano. Com nações differentes se engrandece, Cercadas com as ondas do Oceano; Todas de tal nobreza e tal valor,
Que qualquer dellas cuida que he melhor.
Tem o Tarragonez, que se fez claro Sujeitando Parthenope inquieta; O Navarro, as Asturias, que reparo Já foram contra a gente Mahometa; Tem o Gallego cauto, e o grande e raro Castelhano, a quem fez o seu planeta Restituidor de Hespanha e senhor della, Betis, Leão, Granada, com Castella.
Eis-aqui, quasi cume da cabeça
De Europa toda, o reino Lusitano,
Onde a terra se acaba e o mar começa, E onde Phebo repousa no Oceano. Este quiz o Ceo justo, que floreça Nas armas contra o torpe Mauritano, Deitando-o de si fóra; e lá na ardente Africa estar quieto o não consente.
« AnteriorContinuar » |