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remeiros. É o canto compassado ou vozeria que fazem os marinheiros, para todos pôrem a um tempo o peito ao trabalho. O termo nautico é

faina.

ESTANCIA XXIX

V. 1-Vendo o Gama, attentado, a extranheza

Algumas edições trazem:

Tendo o Gama attentado a estranheza

ESTANCIA LXXXI

V. 3.- Que não vedem os portos tão somente

Talvez seria melhor:

Que nos vedem os portos não sómente

ESTANCIA XCVI

V. 1-Com hum redondo amparo alto de seda

= Amparo é a umbella que trazem os reis e magnatas da India. Os nossos portuguezes tambem o usavam n'aquellas partes, como se pode ver nas estampas que acompanham as Antigas viagens da India de Lindscoht e outros. Ao creado que o trazia se chamava boy.

Na Europa não o usavamos provavelmente por ser reputado uso feminil. Faria e Sousa diz que os italianos, vigilantissimos conservadores do corpo, os traziam menores pelas ruas e vinhas, e as mulheres em Genova, e outras partes, para se preservarem do sol e da chuva. Barros os descreve na Decada 3.o, liv. 10.o, cap. 9.o

ESTANCIA XCVII

V. 5-Vestido o Gama vem ao modo hispano;
Mas franceza era a roupa que vestia,
De setim da adriatica Veneza,
Carmesi, cór que a gente tanto preza.

Parece confusa esta descripção do vestuario do Gama, principalmente depois de tanta distancia de tempo, porém não o está. O que o poeta quer dizer é que o Gama vinha, na generalidade, vestido ao uso peninsular, excepto a roupa, isto é, o roupão ou gibão (que talvez se chamava n'aquelle tempo roupa), introducção franceza e que isto era fabricado de setim de Veneza.

CANTO III

ESTANCIA I

V. 7.-Nunca por Daphne, Clicie, ou Leucothoe

= Leucothóe com accento no segundo o.

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ESTANCIA XIX

V. 5-Tem o gallego cauto, e o grande e raro

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Raro significa aqui excellente, incomparavel =.

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ESTANCIA XLIX

V. 8-Recolhe o fato, e foge para a aldéa

Fato é o rebanho e não roupa; fazemos esta explicação especialmente para os estrangeiros, que muitos, nas suas traducções, têeni caído no equivoco, o que não aconteceu ao traductor italiano Bellotti.

ESTANCIA LIII

V. 3-Desbaratado e roto o Mouro hispano

=

=

As duas primeiras edições lêem Mauro hispano. Adoptámos a emenda feita por Francisco Freire de Carvalho de Mouro hispano, em vista das judiciosas reflexões com que sustenta a emenda, já anteriormente feita pelo editor da edição de 1651.

ESTANCIA LXI

V. 7-0 tom das frescas aguas entre as pedras,

Que murmurando lavã, e Torres Vedras.

Se não fosse o cacophaton = frescas aguas= estaria melhor no singular e desfazia as duvidas e critica sobre este verso. Se nos fosse licito fazer uma alteração, emendariamos por esta fórma:

O som da fresca lympha entre as pedras

ESTANCIA LXV

V. 5-Sentio-o a villa, e vio-o o Senhor della,

==

As duas primeiras edições e a de 1597 trazem a serra della; a edição de 1613 de Manuel Correia emendou Senhor della e nós seguimos a emenda, porque o contrario era um contrasenso. A serra não podia vir pela fralda da serra a soccorrer a serra. No entanto o morgado de Matheus, seja-nos permittido dize-lo, com pouca rasão sustenta a primeira lição.

ESTANCIA C

V. 1-Nunca com Semiramis gente tanta

Semiramis com accento no á.

ESTANCIA CX

V. 6-Está o famoso nome Saraceno

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=

Saraceno ==

Nas duas primeiras edições lê-se Sarraceno. Emendamos pelas rasões expostas por Freire de Carvalho. Já antes assim o tinha emendado Ignacio Garcez Ferreira.

ESTANCIA CXXXIV

V. 6-Tal está morta a pallida donzella

Alguns criticos, como Manuel Correia diz, demasiadamente escrupulosos, notaram que Camões usasse do epitheto de donzella applicado a D. Ignez de Castro, tendo anteriormente dito que pariu tres vezes. Acertadamente lembra Manuel Correa que Camões, nas sciencias e artes, era mais perito que os seus professores. A palavra donzella não significa tão sómente virgem, mas é diminutivo de domina, senhora, e quer dizer =senhora nobre e moça = =. É n'esta accepção que o

poeta aqui a toma. Dizia-se tambem das creadas moças que serviam nos paços dos reis, como serviu D. Ignez de Castro, e assim são denominadas nos livros das Moradias da Casa Real.

CANTO IV

ESTANCIA V

V. 7-A quem ordens, nem aras, nem respeito,

Este verso está visivelmente errado, pois falta-lhe o verbo. Devia provavelmente ler-se assim:

Por quem a ordens nem aras tem respeito

Assim o entendeu tambem o judicioso traductor Bellotti.

=

ESTANCIA XI

V. 7-Armou delle os soberbos moradores,

Matadores está no original, porém convencidos de que não podia ser este o sentido do poeta ousámos, a exemplo do que já fizeram os editores da edição de Hamburgo, substituir por = moradores, certos de que é esta a verdadeira lição.

ESTANCIA XXV

V. 2 Antão Vasques d'Almada he Capitão,
Que despois foi de Abranches nobre conde:

Aqui o poeta equivocou-se: Antão Vasques não foi conde de Abranches, mas sim seu sobrinho Alvaro Vás de Almada. D'este ultimo fallaremos mais largamente no seguinte volume, quando tratarmos do desafio dos Doze de Inglaterra.

ESTANCIA XXVI

V. 1-Estavão pelos muros temerosas,

Isto é, os muros de Abrantes onde as mães, irmãs, esposas e damas viam desfilar o exercito, cuja partida o poeta começa a descrever na estancia xxш. Desconfiamos que o poeta cortou aqui alguma cousa, e atou a narrativa com o verso 5 d'esta estancia:

Já chegam as esquadras bellicosas.

ESTANCIA XXVIII

V. 3-Ouviu-o o monte Artábro; e Guadiana

Com accento no segundo a de Artábro.

ESTANCIA XXXIX

V. 2 D'huma nobre vergonha e honroso fogo,

Algumas edições trazem =fero fogo, mas é má lição.

ESTANCIA LXIII

V. 2-Que o povo de Israel sem náo passou ;

Com accento no á de náo.

ESTANCIA XCII

V. 3-Os velhos, e os meninos os seguiam,

=

nos seguiam

Parece-nos que seria melhor : lando de si e os companheiros, e sendo

porque aqui o Gama está falos seguiam, parece que narra assumpto a elle estranho. Logo na seguinte estancia até ao verso 4, continua fallando no plural, e narrando n'este sentido.

ESTANCIA XCIII

V. 5-Determinei de assi nos embarcarmos

Parece-nos que o ponto não iria mal no fim do verso 4, onde termina a descripção da procissão e acompanhamento dos navegantes. O agente da oração está no plural, e por isso parece-nos que não póde referir-se a = determinei que está no singular e se refere isoladamente a Vasco da Gama, capitão da expedição, que ao ver os acenos ternos da despedida, ordenou abruptamente o embarque prompto. Os quatro primeiros versos d'esta estancia são regidos pelo verbo banhar da estancia anterior, isto é, subentendido, ao que nos parece, por esta fórma: Nós outros banhavamos tambem com lagrimas a areia, sem levantarmos a vista nem á mãe nem á esposa, por nos não magoarmos ou mudarmos do proposito firme começado. No entanto não nos atrevemos a alterar, e deixámos ir como estava no original.

CANTO V

ESTANCIA IX

V. 1-Áquella ilha aportámos, que tomou

O nome do guerreiro Santiago;

Aqui o Camões equivocou-se, tomando o apostolo e patrono das Hespanhas pelo outro santo do mesmo nome. Ja Jorge Cardoso tinha advertido este engano. Vide Agiologio Lusit., 28 de janeiro, nota D, a fr. Rogerio.

ESTANCIA XXIV

V. 1-Mas já o planeta, que no ceu primeiro

O poeta fez neutro o substantivo = planeta=, pondo-o no genero feminino, fazendo-o concordar com o adjectivo = apressada = no mesmo genero.

=

ESTANCIA XXXIII

V. 6-A resposta lhe demos tão crescida,

=Tecida lêem as duas edições de 1572; mas deve ler-se crescida=, como já emendaram outros editores.

ESTANCIA XLV

V. 8-A destruida Quiloa com Mombaça

Quiloa, com accento na primeira syllaba. Vide a nota ao v. 4, da estancia LIV do

canto 1.

ESTANCIA LXXXVI

V. 1-Julgas agora, Rei, que houve no mundo

Na edição que seguimos está se houve no mundo = Emendamos

que houve

no mundo, como lição mais correcta, como já tinha emendado Freire de Carvalho. A edição de 1651 tinha posto:

=

Julga tu agora, Rei, se houve no mundo

CANTO VI

ESTANCIA XXXIX

V. 6-Mas esfregando, os membros estiravam :

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As primeiras edições trazem = estregando=. Faria e Sousa e o morgado de Matheus conservaram a lição antiga, fazendo o ultimo derivar este verbo do latim extergo; porém parece-nos que com pouca rasão, e que aqui houve erro do typographo, que mudou o f em t. De mais, o verbo latino = extergo = significa = limpar e enxugar = parece-nos pois que se deve ler esfregando: Afastamo-nos de todos os editores dos Lusiadas na interpretação d'este verso, referindo-se o verbo aos olhos e não aos membros, devendo ser pontoado por esta fórma:

Os olhos contra seu querer abertos
Mas esfregando, os miembros estiravam:

=.

acção muito natural de quem accorda ebrio do somno, a esfregar os olhos, ficando assim a imagem, que o poeta pinta, muito verdadeira.

ESTANCIA LVI

V. 8-No grande Emporio foi parar de Frandres.

As duas primeiras edições trazem = emperio, porém é erro. Manuel de Faria e Sousa emendou = emporio==, e com rasão, porque nunca ao limitado condado de Flandres se podia dar o magestoso titulo de imperio, mas lhe cabia bem o de emporio pelo lucrativo trato de mercadorias, sendo, na epocha em que escrevia o poeta, a principal feira das nossas especiarias da India, e com quem tinhamos anteriormente relações commerciaes.

ESTANCIA LVIII

V. 7-Vestem-se ellas de cores e de sedas,
De ouro, e de joias mil, ricas e ledas.

Sedas de ouro: entende-se sedas misturadas com ouro, a que antigamente chamavam brocados. A alguem muito escrupuloso fará duvida a expressão de vestir joias, de que usa o poeta; porém, além de se empregar o verbo vestir para expressar todo o complemento do vestuario, e assim dizemos de uma senhora que está bem vestida, incluindo n'esta expressão todas as partes do seu traje. Antigamente faziam parte do vestido as joias com que este era bordado, já de perolas ou pedras preciosas, como se póde ver nos retratos antigos.

O Tasso usou da mesma expressão:

E di serici fili intesta e d'oro.

(GER. CONQ., L. n, est. xcin.)

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