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XCIII

Ve do Benomotápa o grande imperio,
De selvatica gente, negra e nua,
Onde Gonçalo morte e vituperio
Padecerá pela Fé sancta sua:
Nasce por este incognito hemispherio
O metal por que mais a gente sua:
do lago, donde se derrama
O Nilo, tambem vindo está Cuama.

que

XCIV

Olha as casas dos negros, como estão
Sem portas, confiados em seus ninhos,
Na justiça Real e defensão,

E na fidelidade dos vizinhos:

Olha delles a bruta multidão,

Qual bando espesso e negro de estorninhos, Combaterá em Sofala a fortaleza.

Que defenderá Nhaia com destreza.

XCV

Olha lá as alagoas, donde o Nilo
Nasce, que não souberam os antigos;
Vê-lo rega, gerando o crocodilo,
Os povos Abassís, de Christo amigos:
Olha como sem muros (novo estilo)
Se defendem melhor dos inimigos:
Vê Méroe, que ilha foi de antigua fama,
Que ora dos naturaes Nobá se chama.

XCVI

Nesta remota terra, hum filho teu
Nas armas contra os Turcos será claro;
Ha de ser Dom Christovam o nome seu;
Mas contra o fim fatal não ha reparo.
Vê cá a costa do mar, onde te deu
Melinde hospicio gasalhoso e charo:
O Rapto rio nota, que o romance
Da terra chama Oby, entra em Quilmance.

XCVII

O cabo vê já Arómata chamado,
E agora Guardafú, dos moradores,
Onde começa a boca do afamado
Mar Roxo, que do fundo toma as cores.
Este como limite está lançado,

Que divide Asia de Africa, e as melhores
Povoações, que a parte Africa tem,
Maçuá são, Arquico e Suanquem.

XCVIII

Vès o extremo Suez, que antiguamente
Dizem que foi dos Héroas a cidade;
Outros dizem que Arsinoe; e ao presente
Tem das frotas do Egypto a potestade.
Olha as aguas, nas quaes abrio patente
Estrada o grão Moysés na antigua idade:
Asia começa aqui, que se apresenta
Em terras grande, em reinos opulenta.

XCIX

Olha o monte Sinai, que se ennobrece
Co'o sepulchro de Sancta Catharina:
Olha Toro e Gidá, que lhe fallece
Agua das fontes doce e crystallina:
Olha as portas do estreito, que fenece
No reino da secca Ádem, que confina
Com a serra d'Arzira, pedra viva,
Onde chuva dos ceos se não deriva.

C

Olha as Arabias tres, que tanta terra
Tomam, todas da gente vaga e baça,
Donde vem os cavallos para a guerra,
Ligeiros e feroces, de alta raça.
Olha a costa, que corre até que cerra
Outro estreito de Persia, e faz a traça
O cabo, que co'o nome se appellida
Da cidade Fartaque ali sabida.

CI

Olha Dofar insigne, porque manda
O mais cheiroso incenso para as aras:
Mas attenta, já cá de est'outra banda
De Roçalgate, e praias sempre avaras,
Começa o reino Ormuz, que todo se anda
Pelas ribeiras, que inda serão claras
Quando as galés do Turco, e fera armada.
Virem de Castel-Branco nua a espada.

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CII

Olha o cabo Asabóro, que chamado
Agora he Moçandão dos navegantes:
Por aqui entra o lago, que he fechado
De Arabia, e Persias terras abundantes.
Attenta a ilha Barem, que o fundo ornado
Tem das suas perlas ricas e imitantes
Á côr da Aurora; e vê na agua salgada
Ter o Tygris e o Euphrates huma entrada.

CIII

Olha da grande Persia o imperio nobre,
Sempre posto no campo, e nos cavallos,
Que se injuria de usar fundido cobre,
E de não ter das armas sempre os callos.
Mas vê a ilha Gerúm, como descobre

0

que fazem do tempo os intervallos;

Que da cidade Armuza, que ali esteve,

Ella o nome despois e a gloria teve.

CIV

Aqui de Dom Philippe de Menezes
Se mostrará a virtude em armas clara,
Quando com muito poucos Portuguezes
Os muitos Párseos vencerá de Lara.
Virão provar os golpes e revezes
De Dom Pedro de Sousa, que provara
Já seu braço em Ampaza, que deixada
Terá por terra á força só de espada.

CV

Mas deixemos o estreito e o conhecido
Cabo de Jasque, dito já Carpella,
Com todo o seu terreno mal querido
Da natura, e dos dões usados della:
Carmania teve já por appellido:
Mas vès o formoso Indo, que daquella
Altura nasce, junto á qual tambem
D'outra altura correndo o Gange vem.

CVI

Olha a terra de Ulcinde fertilissima,
E de Jaqueta a intima enseada;
Do mar a enchente subita grandissima,
E a vasante, que foge apressurada.
A terra de Cambaia vê riquissima,
Onde do mar o seio faz entrada:
Cidades outras mil, que vou passando,
A vós outros aqui se estão guardando.

CVII

Vês corre a costa celebre Indiana
Para o Sul, até o cabo Comori,
Já chamada Cori, que Taprobana
(Que ora he Ceilão) defronte tem de si.
Por este mar a gente Lusitana,

Que com armas virá despois de ti,

Terá victorias, terras e cidades,

Nas

quaes

hão de viver muitas idades.

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