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XCIX

subtilmente

Este interpreta mais que
Os textos: este faz e desfaz leis:
Este causa os perjurios entre a gente,
E mil vezes tyrannos torna os Reis.
Até os que só a Deos Omnipotente
Se dedicam, mil vezes ouvireis,
Que corrompe este encantador, e illude;
Mas não sem côr, com tudo, de virtude.

OS LUSIADAS

CANTO NONO

OS LUSIADAS

CANTO NONO

I

Tiveram longamente na cidade,

Sem vender-se, a fazenda os dois feitores;
Que os infieis por manha e falsidade
Fazem, que não lha comprem mercadores;
Que todo seu proposito e vontade
Era deter ali os descobridores
Da India tanto tempo, que viessem

De Meca as naos, que as suas desfizessem.

II

Lá no seio Erythreo, onde fundada
Arsinoe foi do Egypcio Ptolemeo,
Do nome da irmãa sua assi chamada,
Que despois em Suez se converteo;
Não longe o porto jaz da nomeada
Cidade Meca, que se engrandeceo
Com a superstição falsa e profana
Da religiosa agua Ma'ometana.

III

Gidá se chama o porto, aonde o trato
De todo o Roxo mar mais florecia,

De

que

tinha proveito grande e grato
O Soldão, que esse reino possuia.
D'aqui aos Malabares, por contrato
Dos infieis, formosa companhia
De grandes naos peló Indico Oceano
Especiaria vem buscar cada anno.

IV

Por estas naos os Mouros esperavam,
Que, como fossem grandes e possantes,
Aquellas, que o commercio lhe tomavam,
Com flammas abrasassem crepitantes.
Neste soccorro tanto confiavam,

Que já não querem mais dos navegantes,
Senão que tanto tempo ali tardassem,
Que da famosa Meca as naos chegassem.

V

Mas o Governador dos ceos e gentes,
Que para quanto tem determinado,
De longe os meios dá convenientes,
Por onde vem a effeito o fim fadado;
Influio piedosos accidentes

De affeição em Monçaide, que guardado
Estava para dar ao Gama aviso,
E merecer por isso o Paraiso.

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