Imagens da página
PDF
ePub
[merged small][merged small][merged small][ocr errors][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small][merged small]

rumo

Por este quadro se infere quanto sobrepuja o vento do Nordeste, tanto pela frequencia como pela força, e si lhe aggregarem os dos rumos contiguos NNE e ENE, a predominancia desse grupo de ventos, o qual produz as grandes correntes da vazante através do Canal do Norte, sobre os outros grupos de ventos, é ainda mais manifesta, principalmente pela totalidade de sua acção dynamica. A seguir-se-lhe vem o grupo dos ventos do quadrante de Sueste, pouco distanciado quanto á frequencia, mas muito inferior na tofalidade de sua energia impulsiva. O grupo dos ventos de SSW-SWS, que é dos temiveis pampeiros, não avulta entretanto pelos effeitos dynamicos em consequencia de sua relativa pequena duração. São mais frequentes os ventos do quadrante NW do que os do grupo precedente; os seus effeitos dynamicos, no todo, são, porém, relativamente inferiores.

Comparando a frequencia dos ventos durante o sexennio de 1877 a 1882, referido no texto, á do triennio de 1913 a 1915, vê-se

que o NE foi ainda mais preponderante neste ultimo periodo, seguindo-se-lhe o rumo ENE e depois o SE, cujas frequencias subiram dos 6 aos 10°, ao passo que, pelo contrario, os ventos Sul e Léste sopraram com frequencia decrescida de mais de 10 para 6,6 °° e 4,3 °°; assim como os de Sudoeste a Oeste diminuiram em proporções quasi identicas.

De facto, occorrem no porto do Rio Grande, de anno para anno, por vezes, grandes divergencias na distribuição e na força dos ventos; assim, por exemplo, deparam-se nos quadros anemograficos do triennio, considerado pelo engenheiro Malaval, as seguintes notaveis anomalias:

Entre 1913 e 1914 para NNE o numero de horas passou de 200 a 702 e o producto do tempo pelo quadrado das velocidades, de 146.000 a 898.000; para o ESE, respectivamente, 105 a 503 e 55.000 a 540.000 emquanto para o do rumo NNW aconteceu o inverso, passando o numero de horas de 277 e 49 e o producto dynamico de 202.000 a 15.000.

Entre 1914 a 1915, quanto ao vento ENE, as cifras passaram de 607 e 520.000 a 1.381 e 1.213.000, respectivamente; quanto ao do Sueste, pelo contrario, passou de 936 e 1.005.000 a 478 e 399.000.

(14) Em 1903, o engenheiro J. A. Fonseca Rodrigues, distincto lente da Escola Polytechnica de São Paulo, publicou uma memoria sobre as "Embocaduras das lagoas com applicação á barra do Rio Grande do Sul", que mereceu ser premiada co ma medalha Hawkahaw pelo Instituto Polytechnico do Rio de Janeiro. E' um estudo completo do assumpto.

Classificou as embocaduras de cursos d'agua no mar pela natureza das correntes que nellas se produzem em tres classes:

1°) embocaduras de correntes fluviaes; são as dos rios que desaguam directamente em mares sem marés apreciaveis, e cujas aguas fluem perennemente em movimento descendente; suas margens sãc sensivelmente parallelas; os sedimentos fluviaes depositam-se no mar em frente à embocadura, formando a barra, quando não são transportadas pelas ondes e pelas correntes do litoral maritimo. O melhoramento da barra, quando necessario,. faz-se pela dragagem ou pela construcção de molhes parallelos em prolongamento das margens fluviaes.

2°) embocaduras de correntes de maré; são as de rios cujas aguas correm alternadamente no sentido ascendente ou descendente, em fluxo e refluxo, misturando-se as aguas proprias do rio com as do mar; e oscillando o nivel d'agua diariamente em toda a parte maritima, em relação com as fases da lua. As margens desses rios são mais ou menos divergentes, dando logar a estuarios afunilados, abrindo para o mar. A vazão em dado momento differe de uma secção do rio para outra, crescendo geralmente em direcção ao mar. Os sedimentos fluviaes e os marinhos, acarretados pelas correntes, ou se depositam no proprio rio, nas enseadas e reintrancias do leito, aterrando-as, ou no estuario alargado, formando bancos, separados por canaes, e nas embocaduras, deltas e barras, quando as correntes marinhas não transportam os sedimentos ao longo da costa. Os melhoramentos consistem na regularização das margens por meio de revestimentos e em grandes trabalhos de dragagem de maneira a facilitar a

propagação da cnda de maré por um leito de capacidade conveniente, conservando a caracteristica de alargar-se em direcção do mar.

3°) embocaduras de correntes lacustres; são de rios que desaguam no mar através de grandes alargamentos dos leitos em forma de bacias ou lagamares.

Ora, o rio lança-se em mar sujeito á maré; as bacias ou lagamares então favorecem o jogo das marés, permittindo a entrada de consideravel volume de agua maritima e subsequente sahida, produzindo as chasses que provocam o aprofundamento do canal na embocadura ou manteem as profundidades existentes; equiparam-se neste caso as fozes dos rios ás embocaduras da 2a classe, e são analogos os trabalhos de melhoramento que lhe são applicaveis.

Ora, o mar é destituido de maré apreciavel. Neste caso, a lagôa, ou laguna, é separada do mar por uma restinga que se foi formando e crescendo com o material arenoso movimentado pelas correntes do litoral maritimo e pelas ondas do mar, e reforçada com as areias transportadas pelos ventos. E' o caso do Rio Grande do Sul.

Até desembocarem nessas lagoas os rios teem seu regimen proprio, puramente fluvial, de fluctuação de nivel dependente do affluxo. das aguas do interior, variavel com as estações do anno, mais ou menos chuvosas, e com a declividade mais ou menos forte do leito. As aguas dos rios ao verterem nas lagoas derramam-se por uma superficie mais dilatada: o regimen hydrologico modifica-se; as variações do nivel das aguas reduzem-se consideravelmente; e tal seja a grandeza da lagoa relativamente aos caudaes dos seus affluentes, podem as oscillações do nivel tornar-se insignificantes. As lagoas servem "de reservatorio de accumulação onde se armazenam as cheias fluviaes, que vagarosamente vão escôando para o mar.

As restingas litoraneas que dão origem ás lagôas não se fecham completamente quasi sempre; "são cortadas por um ou mais canaes, que servem de sangradouro ás aguas doces, e por onde o mar penetra no interior".

As variações de nivel nas lagoas, quando as há, são devidas mais á influencia dos ventos reinantes, soprando duradouramente por sobre a superficie liquida, rechassando as aguas no sentido em que os ventos actuam, e dando logar á elevação do nivel d'agua em um dos extremos da lagoa e o rebaixamento no extremo opposto.

No canal que communica a lagoa com o mar e tem por principal funcção dar sahida para o mar ás aguas da bacia hydrografica, estabelece-se um regimen hydrologico peculiar, devido ás variações do nivel d'agua nos dois extremos do canal, provocadas estas variações pela acção dos ventos não sómente por sobre a lagoa, como tamberi no mar, quando os ventos, soprando de rijo em direcção ao litoral, levantam o nivel das aguas na embocadura do canal.

Assim estabelecem-se devido à differença de nivel nas estremidades, correntes em um sentido ou no outro, por todo o canal, correntes ás vezes de grande intensidade, que o simples jogo das marés, quasi nullas, não seria capaz de produzir.

O Dr. Fonseca Rodrigues, em sua memoria, applica a doutrina com todo o seu desenvolvimento ao Rio Grande do Sul. Não me deterei na apreciação deste notavel estudo, nesse caso concreto, porquanto os seus resultados, em sua essencia, coincidem com os que a este respeito exponho em diversos capitulos do presente trabalho.

(15) Em 1906 a Secção de Hydrografia da Commissão Fiscal e Administrativa das Obras do Porto do Rio de Janeiro iniciou, sob a direcção do eminente engenheiro Manoel de Souza Bandeira, recentemente fallecido, o serviço da determinação das constantes de maré para o porto do Rio de Janeiro, pela applicação da analyse harmonica, segundo o methodo estabelecido por Lord Kelvin. Este serviço foi ampliado com a applicação da doutrina ás marés dos outros portos, á medida que eram colligidas as observações, registradas por meio de marégrafos, installados pelas commissões subordinadas á repartição central, nos differentes portos.

A principio, foi o serviço dirigido pelo engenheiro Alix Lemos, actualmente vice-director do Observatorio Astronomico do Rio de Janeiro, e, por fim, esteve e está a cargo do engenheiro Luiz José Le Cocq de Oliveira, chefe de Secção da Inspectoria Federal de Portos, Rios e Canaes. Ambos escreveram memorias relativas ao assumpto, sendo do primeiro a intitulada: "Estudo de marés e correntes; determinação das constantes da maré pela Analyse Harmonica das Marés" publicado em 1908; e do segundo: "Theoria Elementar e Pratica da Analyse Hadmonica das Marés", publicada em 1912.

Os resultados dessas operações de gabinete, que são morosas e complicadas, são regularmente remetidas ao Observatorio Astronomico do Rio de Janeiro, onde em tempo se installou um tidepredictor, appare'ho ideado por Lord Kelvin, pelo qual, com aproveitamento das constantes das marés dos diversos portos, se faz praticamente a previsão das marés em cada anno e para cada porto. No Annuario do Observatorio Nacional do Rio de Janeiro teem sido publicadas as "Taboas de Marés", calculadas com o auxilio do tide-predictor para alguns portos.

CAPITULO III

DIVISÃO DA COSTA EM ZONAS PORTUARIAS

« AnteriorContinuar »