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ville, e por ser o ponto terminal do ramal da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, que parte de Porto União; e para o futuro, quando os trilhos forem prolongados pelo valle do Iguassú até o rio Paraná, nas fronteiras com as Republicas Argentina e do Paraguay poderá vir a ser a séde de um activo movimento commercial e maritimo.

A Companhia da Estrada de Ferro S. Paulo-Rio Grande obteve pelo decreto n. 9.967, de 26 de dezembro de 1912, concessão para construir e explorar ahi uma estação maritima sem onus para a União e sem privilegio. De accordo com esse decreto: "a Companhia fica autorizada a fazer á sua custa a desobstrucção do ancoradouro e bem assim a dragagem de um canal através da Lagoa Baguassú c a desobstrucção do rio Cachoeira, de modo a tornar franca a navegação com aguas minimas entre o porto de S. Francisco e a cidade de Joinville para as embarcações de dois metros de calado". Ainda não foi feito serviço algum pela citada Companhia para qualquer desses melhoramentos, nem os estudos foram por ella apresentados.

Do que fica exposto evidencia-se que o porto de S. Francisco porderá ser melhorado e tornar-se um porto de primeira grandeza por meio de obras de custo moderado, as quaes consistirão, além da dragagem do canal do accesso, na destruição provavel de alguns rochedos ro estuario, e na construcção de um pequeno cáes ou embarcadouro sobre estacada de concreto armado.

Quanto ás condições naturaes excepcionaes e á modicidade dos melhoramentos reclamados, o porto de S. Francisco é no Sul do Brasil o que o de Natal é nas regiões do Norte.

Em 1921, após um levantamento hydrographico effectuado do porto e da barra, a Inspectoria de Portos, Rios e Canaes organizou um projecto de melhoramento que foi approvado pelo decreto n. 15.202. No anno seguinte, em virtude de lei do Congresso, o Governo da União contractava com o do Estado de Santa Catharina a construcção de obras e uso e gozo dellas durante o prazo de 60 annos, de accordo com as clausulas approvadas pelo decreto n. 15.753.

As obras contractadas são: 1°) a dragagem de um canal através da barra com 100 metros de largura e fundo de nove em aguas minimas.

2o, construcção de um cáes acostavel por embarcações de oito metros de calado, com 334,5 de extensão.

3o, sobre o terrapleno formado atrás do cáes dois armazens do 6.000 metros quadrados; linhas ferreas ligadas a E. F. de S. Paulo e Rio Grande; guindastes rodantes, uma avenida externa e canalizações de agua e esgotos, luz e força.

As obras foram orçadas em 9.736 contos de réis, papel. O capital definitivo não deverá exceder este orçamento. Pelo contrato, o

Governo Federal garante uma renda minima de 6 % sobre o capital, mediante a applicação da taxa de 2 %, ouro, sobre o valor da importação estrangeira no porto e mais a taxa de barra de 0,7 % ouro, sobre o mesmo valor.

ITAJAHY

Transcrevenios do relatorio sobre a inspecção aos portos do Sul do Brasil, apresentado a 5 de junho de 1920 pelo Engenheiro Edgard Gordilho, esforçado e habil profissional, recentemente victimado em lamentavel desastre occorrido na bahia da Guanabara, no exercicio de suas funcções, muito do que expoz sobre os portos de Itajahy e de Florianopolis, assim como referencias por elle feitas á barra de Laguna e ao porto de Imbituba.

"Ao navegante que, acompanhando de perto o litoral do Estado de Santa Catharina, se dirige do Norte para o Sul, apresentam-se em certa altura: duas pontas sobre o mar: uma, mais avançada, denominada a de "Itapocoroya" e a outra a chamada das "Cabeçudas", ambas formando as extremidades de um arco em cuja concavidade se abriga uma extensa praia fronteira á cidade de Itajahy. Essa praia, ccrrendo para o Sul, na direcção NS, vae terminar num pontal, no limite do canal, onde se lança o Itajahy-Grande, e que dá accesso ao porto da cidade."

"Desse modo se vê que o rio Itajahy, depois de um curso de 250 kilometros, a partir da Serra do Mar, de onde se despenha, ora em rapidas corredeiras, ora com estirões de extrema tranquillidade, vem ter a sua sahida comprimida numa praia de areia formada pelas vagas do mar, sob a acção do vento de Léste, e um paredão de rochas que a forçam em angulo agudissimo a tomar uma direcção quasi transversal á do seu movimento."

"A' margem direita a, mais ou menos, um kilometro da embocadura é edificada a interessante cidade de Itajahy, que se estende por essa margem em direcção á montante do rio, até cerca de tres kilometros de distancia, de onde o rio, em curvas extremamente sinuosas, continúa o seu desenvolvimento para o interior."

"Em frente á cidade, onde se acha o ancoradouro ou porto commercial, o rio tem a largura de 320 a 430 metros e a profundidade de seis a nove; e, em consequencia das fortes curvaturas do seu leito, esta profundidade se desenvolve, irregularmente, rio acima, apresentando, em diversos pontos e de accordo com a regra conhecida, poços ou "peráos" (mouilles dos francezes)."

"Ambas as margens são constituidas ou formadas por barrancos de areia fina de praia, talvez de dunas, que existiam em tempos ante

riores e hoje fixadas, por cima das quaes o rio deve ter corrido, procurando a linha de maior declividade. E esta, afinal, foi encontrada na actual posição, que, aliás, é modificada, quando a corrente sob acção de forte massa d'agua recebida de montante, e tocada com velocidades excessivas, procura sahida atravéz da lingua de praia, que a fixa pela margem esquerda."

"Da natureza do terreno de que as margens são constituidas, origina-se tambem o grande inconveniente, elevado ao mais alto gráo, da corrosão que ellas soffrem, sob acção violenta dessas correntezas, as quaes, devido á contribuição de outros volumes d'agua, adquirem intensidades fortissimas, a ponto de inodificarem rapidamente a orientação do talweg. E' por isso que, acima ou abaixo da cidade, o leito apresenta fórmas de curvas reversas muito pronunciadas, cujas concavidades, cada vez maiores, podem, para o futuro, abranger o local, onde está construida a cidade. Uma destas, á jusante da cidade, foi rectificada pela construcção de um guia-corrente, em direcção parallela ao pontal de areia atrás citado, formando a corda do arco que a subentende, e tendo por fim especial encaminhar a correnteza sobre a barra, de modo a produzir chasse no canal de entrada e o ataque ao dito pontal de areia, que a limita."

"Essa construcção, procurando resolver o problema, attendeu á protecção do Sul da cidade, e ao mesmo tempo crcou um reservatorio de maré, cujo volume d'agua armazenada se junta á do rio para agir sobre o cana!."

"Como se deprehende dessa rapida descripção, a situação do porto e barra de Itajahy resume-se em duas questões principaes: 1", resolver o problema de sua entrada ou canal da barra, de modo que os navios possam transpòl-o sem a difficuldade, que apresenta á manobra, em virtude do cotovello fortissimo a que o pontal de areia da margem esquerda dá logar; 2a, evitar o solapamento continuo das margens do rio, a montante da cidade, que póde, de um momento para outro, attingir a propria cidade."

"Para elucidação da primeira questão examinarei o modo pelo qual o canal da barra se desenvolve, e como se mantém na situação actual."

"Já fiz sentir que a praia da margem esquerda do rio é formada, como nos casos de outros portos, pelas vagas profundas e sobretudo pelos ventos de NE,, as quaes, no seu movimento de translação, transportam as areias que, finalmente, formam a praia propriamente dita. Em Itajahy este movimento é perfeitamente accentuado, e, como em determinado ponto, a costa avança para o mar, sob a fórma de um bloco de natureza rochosa, formando a ponta das "Cabeçadas", a praia

que se vem desenvolvendo de N para S, ahi desapparece, para de novo surgir na reintraneia a que o avanço dos rochedos dá logar.”

"Ora, do lado N dessa ponta rochosa é que o rio Itajahy, em procura da sua sahida através de terras baixas e faceis de serem corroidas, encontrou resistencia na sua passagem, e, então, segundo a lei do meñor esforço, rompeu nesse logar o trecho de praia menos espesso que a elle se antepunha, formando ahi o seu desaguadoùro, e conseguintemente, o canal de accesso ao porto."

"E' evidente que a situação de equilibrio nesse canal é mantida pelo jogo de duas forças: uma, a continua massa de areia que tende a tapar ou obturar a entrada do porto, a outra, a acção constante das correntes do rio que destroem os esforços naquelle sentido. As modificações oscillam entre limites dependentes da superioridade temporaria de uma força sobre outra; ora, são as correntes sob acção de um grande volume d'agua á montante (aguas do monte, como se chamam no local), que abrem passagem, á custa de enorme trabalho de crosão e transporte para os grandes fundos; ora são as vagas (quando aquellas diminuem de intensidade) que, tangidas pelo NE insistente, procuram restabelecer as condições anteriores, aggravando-se bastante até que o lumite de estabilização seja attingido."

"Nas épocas em que as chuvas deixam de avolumar as aguas da bacia no rio, o pontal cresce, avança e restringe assim o accesso á largura minima compativel com a intensidade que as correntes attingem na occasião."

"O navio que deinanda o porto depois de carinhar mais ou menos parallelamente á costa é obrigado a orçar rapidamente em angulo quasi recto, para se desviar, por um lado, da orla de costão referido, e por outro, do proprio pontal de areia, manobra arriscada, que constitue o ponto perigoso da transposição da barza."

"A esta difficuldade, circumstancias confrarias por vezes se reunem, que as tornam ainda maiores. São ellas a extraordinaria intensidade das correntezas por occasião das cheias do rio, a frequencia dos verlos de Léste, e os temporacs que determinam forte arrebentação na entrada".

"As cheias, segundo informacão local, quando muito fortes, produzem uma correnteza, cuja intensidade é avaliada em sete milhas por hora, ou talvez mais; como resultado torna-se então difficilimo o governo dos navios, já porque lhes podem superar a velocidade propria, já porque, variando de direcção, no deixarem o ponfal, podem atiral-03 Nessas occasiões, a entrada só pode ser feita com auxilio de robocadores, tornando-se preciso, quasi sempre, arriar ferros para evitar o desgarro das embarcações.

sobre os escolhos, por entre os quaes navegans, tornando-se pre

"A profundidade maxima no passe da barra é de 5",00 em aguas minimas".

"As alternativas apontadas, que afinal tornam as condições de praticabilidade da barra precarias, é que precisam ser removidas".

Alguns trabalhos têm sido executados pela Commissão encarregada de estudos e obras nos portos de Santa Catharina, e na medida que a exiguidade das verbas orçamentarias, annuacs, o tem permittido; os quaes trabalhos indicam o esforço empregado em descobrir uma fórmula ou os meios mais capazes de melhorar as condições da barra e attender tambem á questão do solapamento das

que, de ha muito, vem tornando um perigo ameaçador para a segurança da cidade.

Constem taes trabalhos, além de diques transversaes ou espiões (groynes) construidos em alguns pontos, de pedras e malacões jogados, e dispostos de maneira a attenuar os effeitos erosivos da correnteza sobre as margens concavas, do guia-corrente já mencionado.

Esta ultima obra feita de enrocamentos com superstructura de blocos naturaes arrumados já estava construida na extensão de 1.391 metros em fins de 1914, até confrontar o pontal da barra, e segundo o que estava delineado deveria ser prolongado de cerca de 700 metros, em curva de 420 metros de raio, esperando-se com isto aprofundar a barra para seis metros em aguas minimas quando foram suspensos os trabalhos.

Não são concludentes os effeitos produzidos por essa obra sobre a barra; e a este respeito o Engenheiro Gordilho exprime-se do seguinte modo: "Esse dique, parece, avançou demais; o effeito delle esperado não correspondeu á espectativa. O pental ainda se curvou para o interior do porto, e a barra entre ambos mais se restringiu, indicando que a chasse não deu o resultado previsto".

"O facto tem explicação, talvez, na eircumstancia de ter a corrente dagua de refluxo, proveniente da grande bacia ou reservatorio formado pelo dique, procurado escoamento pelo lado da margem opposta ao pontal, por onde elle se faz naturalmente, em virtude da propria orientação do dique. Para que o pontal fosse atacado, seria necessario que a corrente, ao deixar a ponta do dique, tomasse uma forte inclinação transversal ao eixo do talweg, o que não acontece devido á extensão exagerada do dique, que a guia no sentido longitudinal, em direcção á parte concava do costão".

"Por isso sou levado a acreditar que esse comprimento demasiado não trouxe vantagem, convindo reduzil-o de modo a aproveitar a acção da corrente que se dirige junto a clle, do lado interno e vae-se reunir á massa dagua á montante do pontal, obrigando-a a dirigir-se

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