Que em poucos se achão poucas repartidas, E em nenhuma nação junctas, e unidas.
«Religião, a primeira, sublimada, De pio e sancto zelo revestida; Ao culto divinal sómente dada, E em seu serviço e obras embebida. Nesta, a gente no elysio campo nada, Se mostrou sempre tal em morte, e vida, Que póde pretender a primazia Da illustre e religiosa monarchia.
"Lealdade he segunda, que engrandece, Sobre todas, o nobre peito humano; Com a qual similhante ser parece Ao côra celestial e soberano. Nesta por todo o mundo se conhece Por tão illustre o povo lusitano, Que jamais a seu Deos, e Rei jurado, A fé devida e pública ha negado.
«Fortaleza vem logo, que os authores Tanto do antiguo Luso magnificão, Que os vossos Portuguezes com maiores Obras, ser verdadeira certificão: Dando materia a novos escriptores, Com feitos, que em memória eterna ficão; E vencendo do mundo os mais subidos, Sem nunca de mais poucos ser vencidos.
Conquista será a quarta, que no imperio Portuguez só reside com possança :
Pois no sublime e no infimo hemispherio As quatro partes só do mundo alcança: E as quatro nações dellas por mysterio Com que conquista, e tem certa esperança, Que Christãos, Mouros, Turcos, e Gentios, Junctarão n'huma lei seus senhorios.
«Descobrimento he quinta, que bem certo A gente lusitana só se deve;
Pois tendo Norte a Sul ja descoberto, Adonde o dia é grande, e adonde breve: E por caminho desusado, incerto, De Ponente a Levante, inda se atreve Cercar o mundo em torno por direito: Feito despois, nem antes, nunca feito.
«Deixo de referir a piedade Do peito Portuguez, e cortezia, Temperança, fé, zelo, e caridade, Com outras muitas, que contar podia. Pois a segundo o ponto da verdade, E regras da moral philosophia,
Não póde conservar-se huma virtude, Sem que das outras todas se arme, e ajude.
«Mas destas, como base, e fundamento Daquellas cinco insignes excellencias, Em que ellas tee seu natural assento, E de quem tomão suas dependencias : Não quero aqui tractar, que meu intento Não é descer a todas minudencias,
Que geraes são no mundo a muita gente, Senão das que em vós se achão tão sómente,
«Mas não será de todo limpo e puro, O curso desigual de vossa história: Tal é a condição do estado escuro Da humana vida, fragil, transitoria: Que mortes, perdições, trabalho duro Aguarão grandemente vossa gloria; Mas não poderá algum successo, ou fado, Derribar-vos deste alto e honroso estado.
Tempo virá, que entr`ambos hemispherios Descobertos por vós, e conquistados,
E com batalhas, mortes, captiverios, Os varios povos delles sujeitados: De Hespanha os dois grandissimos imperios Serão n'hum senhorio só junctados, Ficando por metrópoli, e senhora,
A cidade que cá vos manda agora.
Ora, pois, gente illustre, que no mundo Deos no gremio catholico conserva, Redemidos da pena do Profundo, Que para os condemnados se reserva, Por vos dotar o que perdeo o immundo Lusbel, com sua infame e vil caterva; Pois sabeis alcançar a gloria humana, Fazei por não perder a soberana.”
Ultimamente, depois da Estancia cxLI deste Canto x, se achava mais esta que aqui vai: Daqui saindo irá, donde acabada
Sua vida será na fatal ilha:
Mas proseguindo a venturosa armada A volta de tão grande maravilha; Verão a náo Victória celebrada Ir tomar porto juncto de Sevilha, Despois de haver cercado o mar profundo, Dando huma volta em claro a todo o mundo. "
20. Quatro versos no meio desta Est. acha
vão-se trocados, e hum differente desta
Pizando o crystallino ceo fermoso Pelo caminho lácteo excellente, Se junctão em concilio glorioso Sobre as cousas futuras do Oriente.
22. Hum gesto severo. POR Gesto alto severo. 23. Os outros mais "
24. Deve-vos de ser no- " Deveis de ter sa
« AnteriorContinuar » |