Danação da nação: legados coloniais e projetos nacionais (Portugal & Brasil / Inglaterra & Irlanda)

Capa
Pimenta Cultural, 4 de jul. de 2023 - 463 páginas
Se a violência imperial mais impactante consiste no epistemicídio e, portanto, sua sequela mais longeva incide sobre a identidade cultural, a fabricação dessa identidade constitui material revelador sobre os modos de gestão do legado colonial. Investida de conotação jurídica sucessória, a acepção de legado tem operacionalidade conceitual por sinalizar que a descolonização, longe de cumprida com a independência de jure, não prescinde, para se lograr independência de facto, da logística dos bens materiais e simbólicos herdados. Como o legado tem estatuto indeferível e o legatário não pode ignorá-lo de todo, mas pode, sim, investi-lo de sentido outro que não o original, o conceito fornece chave de leitura para exame de como estereótipos coloniais são ressemantizados pela intelligentsia em seu projeto nacional aqui entendido como aparente cometimento monolítico em que subjazem batalhas simbólicas entre afiliações de letrados que reclamam para si a primazia de determinar como e por quem a nação será inventada. Em horizonte comparatista supranacional, este livro procede ao cotejamento das relações luso-brasileiras e anglo-irlandesas no escopo da crítica pós-colonial, de que têm sido proscritas devido às suas disjuntividades idiossincráticas, e investiga como os projetos nacionais brasileiro e irlandês geriram os respectivos legados em seus processos de descolonização. Uma vez que a noção de herança implica anterioridade, Danação da nação empreende análise do discurso colonial a fim de perscrutar a recursividade da feminização como dispositivo de invenção da alteridade a partir do binômio saber/poder, plasmado em práticas escriturárias como a literatura. Para investigar conflitos identitários herdados da experiência colonial na invenção conjuntiva das noções de nacionalidade e masculinidade, o volume procede, ainda, à análise do discurso anticolonial, com ênfase no intervalo entre meados do século XIX e meados do XX, que corresponde a um patamar do nacionalismo cultural assentado na obsessão de letrados brasileiros e irlandeses pelas respectivas noções de formação e renascimento.
 

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