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Bolim bolacho, bole em cima,

Bolim bolacho por causa do bole embaixo
Quem não come da castanha caruru

Não percebe do caju

Quem não come do caju

Não percebe do fubá

entusiasma fatalmente os auditórios. Eles, os trovadores, tenham ou não alegria, acham que tudo tem compensação até na morte:

Vai o pobre para a cova

E o rico para a carneira
Mas ao fim de cinco anos
Ao abrir a salgadeira

Quer do pobre, quer do rico

Há só ossos e caveira.

A despreocupação dessa gente parece Viver com uma estranha Verdade no lundu popular:

Eu Vivo triste como sapo na lagoa
Cantando triste, escondido pelas matas.

Para ver se endireito a minha Vida

Vou deixar das malditas serenatas.
O meu nome na Gazeta de Notícias
Ainda hoje eu vi bem declarado:

Ontem, à noite foi preso um vagabundo...

Vagabundo sim! A musa da Cidade, a musa Constante e anônima, que tange todas as Cordas da vida e é Como a alma da multidão, a musa triste é vagabunda, é livre, é pobre, é humilde. E por isso todos lhe sofrem a ingente fascinação, por isso a voz de um vagabundo, nas noites de luar, enche de lágrimas os olhos dos mais frios, por isso ninguém há que não a ame _ flor de ideal nascida nas sarjetas, sonho perpétuo da cidade à margem da poesia, riso e lágrima, poesia da encantadora alma das ruas!...

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Paulo Barreto (João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto; pseudônimo literário: JOão dO Rio) nasceu nO Rio de

Janeiro, RJ, em 5 de agosto de 1881, e faleceu na mesma cidade em 23 de junho de 1921.

Era filhO de educador Alfredo COelhO Barreto e de Florência Cristóvão dos Santos Barreto.

O jornalista, cronista, contista e teatrólogo foi o segundo ocupante da Cadeira 26 da Academia Brasileira de Letras, eleito em 7 de maio de 1910, na sucessão de Guimarães Passos e recebido pelo Acadêmico Coelho Neto em 12 de agosto de 1910.

Entre suas obras estão: As religiões do Rio, reportagens (1905); Chic-chic, teatro (1906); A última noite, teatro (1907); O momento literário, inquérito (1907); A alma encantadora das ruas, crônicas (1908); Cinematógrafo, crônicas (1909); Dentro da noite, contos (1910); Vida vertiginosa, crônicas (1911); Os dias passam, crônicas (1909); Dentro da noite, contos (1910); Vida vertiginosa, crônicas (1911); Os dias passam, crônicas (1912); A bela madame Vargas, teatro (1912); A profissão de Jacques Pedreira, novela (1913); Eva, teatro (1915); Crônicas e frases de Godofredo de Alencar (1916); No tempo de Wenceslau, crônicas (1916); A correspondência de uma estação de cura, romance (1918); Na conferência da paz, inquérito (1919); A mulher e os espelhos, contos (1919).

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