BrilhOu lá nO céu mais uma estrela Apareceu Santos Dumont. Há pelo menos duas tolices em tal mOxinifada. O music hall ficava, entretanto, apinhado de jovens soldados, de marinheiros, de mocinhOs patriotas; e eu hei de lembrar sempre certa vez em que, passando pelo café-cantante, Ouvi O barulho da apoteose e entrei. Estava O Dudu das Neves, suado, com a cara de piche a evidenciar trinta e dois dentes de uma alvura admirável, no meiO do palco e em todas as Outras dependências dO teatros a turba aclamava. O negro já estava sem voz. AssinalOu para sempre o século vinte É Santos Dumont um brasileiro E após essa rajada de hipérboles aO Dumont que todos nós conhecemos, sportman, elegante, acionista da Mogiana, bem homem da sua época, eu vi no estridor das aclamações Fausto Cardoso, poeta, político, patriota, agitar freneticamente um lençO, pálido de emoção... Era a vitória da calçada, era a poesia alma de todos nós, era o sentimento que brOta entre Os paralelepípedos com a seiva e a vida da pátria. Esse patriotismo é a nOta persistente dos poetas sem nOme, patriotismo que quer dominar O estrangeiro e jamais exibe, cOmO exibem Os jornalistas, a infâmia dos políticos e as fraquezas dos partidos. A musa urbana enaltece sempre Os seus homens e quando Odeia oculta O ódio para nãO o mOstrar aos de fOra. TOdOs Os episódios da revolta foram postos em verso. Floriano tem entre outras aquela quadra: Quando ele apareceu, altivo e sobranceiro E marechal de ferro, escudo da nação. E de imaginar por aí que a pátria suspirosa tinha medo das granadas e odiava Saldanha? Pois não! Saldanha também tem quadras em que se canta o seu valor épico. Na guerra de Canudos os garotos diziam a propósito do Conselheiro Quem será esse selvagem Fere luta no sertão? para cantar em estilo majestático a morte de Moreira César. A musa tem dignidade _ a quantos jornais ensinaria ela! Basta que o sangue apareça para que a vejamos soluçar. 5 de novembro Data fatal Em que deu-se a morte Desse marechal... Basta que alguém suba para que ela aplauda. Por quê? Porque, além de chorosa, além de digna, ela também recebeu o Vírus que corrompe as camadas superiores, o Vírus do engrossamento. Apenas nela é espontâneo e sem lucro. É o patriotismo bizarro. A polícia proíbe as agressões às autoridades. Furcy seria um mito na Maison Moderne, impossível em qualquer brasserie. 1 O povo, porém, que, como se sabe, e sempre oposicionista, decorou a canção dos presidentes: 10 de março Foi o dia da eleição, Foi eleito o Campos Sales Bom Prudente de Morais. Era bom Floriano, era bom Prudente, foi bom Campos Sales, são bons Rodrigues Alves e já o conselheiro Afonso Pena! Um outro Versinho diz: Mostrou que o Brasil não dorme Da presidência o bom paulista Com ele é tudo fogo, linguiça! A musa acaba até Com a má fama antiga, e se não faz versos diz verdades. Qual de vós teria a coragem de conservar quand même essa atitude de bondade para Com todos os políticos? Esse esquisito sentimento dos poetas da calçada tem uma sequência lógica _ o jacobinismo pândego, a Crítica acerba, toda de alto, Com desprezo das Coisas estrangeiras. A guerra hispanoamericana foi motivo de um milheiro de Cançonetas. Todas afinam por este diapasão: La Union Española Quando por acaso o capadócio ama uma estrangeira, confessa, mas arreliando o seu bem: Tomei amores Com uma argentina É terno, gringo, profundo E também das mais sensuais. E a volubilidade, a despreocupação, a ironia complacente do malandro nacional exterioriza-se nas canções resultantes de grandes agitações como as causadas pela lei do selo, a reforma da higiene, a vacina Obrigatória. A musa não se encOleriza, ri. O selo só fez compreender ao malandro que Os fornecedores podiam ser multados: Sapateiro já não pode Catrapuz! está multado. Uma das canções mais populares sobre a peste bubônica tem este estribilhO: Os ratos fazem qui, qui, qui, As pulgas pulam daqui Pra ali, dali praqui, daqui prali Miau, miau, miau Quem inVentOu a peste bubônica Merece muito pau. |