Há também poetas eróticos, o Chico Bentevi, autor do poema Os Amores de Carlos: Chiquinha abriu sOrrindO Com a sede... Uma sede excessiva! Há poetas descritivos, trovadores simples, cançOnetístas Ocasionais, todos com um sentimento insistente: são patriotas e sofrem injustiça porque nasceram brasileiros. O preso Carlos, pOr exemplo, que se assina Carlos F. P. Nas suas trovas é insistente a preocupação de que está preso porque é brasileiro. Escolho na sua considerável Obra poética uma modinha cheia de mágoas: Meus senhores, venham Ouvir Na casa de detenção. São martírios que se passam Sofrendo profunda dor Ser preso e condenado Por vingança é um horror. Se os martírios fossem enormes, era natural que o Petrarca novo não compusesse quadras; mas Carlos F. P. é feroz e continua: Fui preso sem nenhum crime E surge afinal a preocupação, a ideia fixa: Sou um triste brasileiro Por ser filho da nação. Há uma porção de modinhas neste gênero. A ideia constante aparece sempre, ou na primeira ou na última quadra. Outro poeta, José Domingos Cidade, é descritivo. Como toda a gente sabe, o poema épico passou literalmente à cançoneta. Virgílio, Lucano, Voltaire e Luís de Camões, se vivessem hoje, decerto comporiam os trabalhos de Eneias, a Farsala, a Henriade e os feitios de Vasco da Gama com refrains ao fim dos Versos de mais efeito. Não há mais ninguém com coragem para ler um poema heroico, apesar de haver ainda neste mundo de contradições _ heróis guerreiros. Só o povo, a massa ignara, ainda acha prazer em Ver, em rimas, batalhas ou arruaças. José Domingos, no cubículo que o veda à admiração dos contemporâneos, escreveu Os Sucessos, cançoneta repinicada, para violão e cavaquinho. Vejam o poder de descritiva de Domingos: Dia quinze de novembro. De clavinote a tiracol. Isso é incontestaVelmente mais belo que o antigo e clássico começo épico: “Eu canto os feitos, ou as armas, ou as guerras civis”, de todos os vates e de Lucano, que por sinal começa dizendo: “Eu canto as nossas guerras mais que civis nos campos de Ematia. . .” Cidade foi mais urbano, mais imediato: cantou a refrega civil da Rua da Passagem com exagero apenas. Na segunda quadra, a descrição é soluçante: As pobres mães choravam E gritavam por Jesus; O culpado disso tudo Quando o homem predestinado que se chama Osvaldo Cruz pensou que José Domingos o amarrasse ao papel de carrasco em plena detenção? Para o fim, mesmo em Verso, o autor é modesto e patriota: O autor desta modinha Sou patriota brasileiro. Os Companheiros do Prata Preta, pessoal da Saúde, são naturalmente repentistas, tocadores de violão, Cabras de serestas e, antes de tudo, garotos, mesmo aos quarenta anos. O malandro brasileiro é o animal mais Curioso do universo, pelas qualidades de indolência, de sensualidade, de riso, de vivacidade de espírito. As quadras pornográficas são em número extraordinário; as que exprimem paixão são constantes, posto que o malandro não as faça senão para ser admirado pelos outros e independente de amar quer senhora das suas relações. Um gatuno afirmou-me que a modinha A Cor Morena era de seu amigo. Na Cor Morena há este pensamento de um perfume oriental: Fui condenado Pela açucena A COr morena... Onde se vê o bom humour dos presos é principalmente nas quadras sobre acontecimentos políticos. O guarda Antônio Barros, que se dava ao trabalho de acompanhar as minhas horas de penitenciária voluntária, forneceu-me as seguintes remetidas por um dos detentos: Meus amigos e camaradas Na Conhecida Gamboa LOgO O Cardoso de Castro Para O alto Juruá Mas eu que não sOu de ferro Lá nos borrachas do Acre. |