CANTO II. A FREDERICA. me pascunt oliva, Me chicoria levesque malva. Hor. QUE espectaculo augusto! Com qual ordem Classificou o ingenho os dons de Flora! Ó Frederica, ó filha! Dom celeste Dos tres dominios onde a Natureza Tu penetras as rochas; tu co' a idéa Da cristallisação vês os progressos: Onde labora a Chymica divina Vês nascer os metaes; e não te assustam As sulphureas cavernas, os betumes, Quando Eólo refrêa os Notos bravos, Não te condemno, não: mas vem, observa As plantas, meu conforto; este attributo Creará em teu peito a paixão dellas. Phebo triumpha. Os pestilentes limos Que deram ser em Delos á Serpente, (2) Desta não guardam já mais que o despojo: E em premio, ao filho, Jove o Sol entrega. No carro d'ouro os urcos magestosos Pelas plagas do Ceo o Numen pucham, E os thesouros da Luz na terra espalham. << Faça-se a Luz» diz Jove, e a Luz é feita. Da potente palavra o Cahos pasma. Luz! Origem das cores! Luz, que animas O numeroso exercito que opponho A Tristeza, que os dentes em mim crava! Materia indefinida! Luz! Prodigio (3) Que cada dia o mundo arranca ao Nada, E que infunde nas plantas vital graça!... Se queres recrear-te, observa as plantas, Como um pintor attento observa o gesto, As formas engraçadas de Hypicaris. Se á flor falta pensar, se a voz lhe falta, Verás que este individuo, se não sente, Vegeta, cresce, e como nós respira. (4) A Natureza, de uma frente bella E só violenta mão as move e arranca. Ó privilegio! ó filha! Se este dote Com profunda raiz pegada á minha. Filha da planta, flor! Tu, que preparas Com perfumes e gala o nascimento Do fructo vagaroso que promettes, Vem de aromas tambem encher meus versos TOMO IV. 3 É de Apollo o calor quem abre as plantas; (6) Nymphas contai-nos os caprichos dellas; Outras, mais ternas, em familia unidas. (7) Cachos, espigas, escamosas flores, Tudo indica nas plantas sentimento; (8) Tudo acorda as idéas da ternura, E o systema geral da Natureza. Quando os homens sonharam que de Flora Era Zephyro esposo, certo tinham (*) Leonor, e Frederica. |