Obras poeticas de Bocage ...

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Imprensa portugueza-editora, 1875
 

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Passagens mais conhecidas

Página 94 - No sepulcro dos viventes. Para a casa dos assentos Caminho com pés forçados ; Ali meu nome se ajunta A mil nomes desgraçados. Para o volume odioso Lançando os olhos a medo, Vejo pôr — Manuel Maria — E logo à margem — Segredo. — Eis que sou examinado Da cabeça até aos pés, E vinte dedos me apalpam, Quando de mais eram dez.
Página 97 - Por onde à presa matula Ouvia, de quando em quando, Conto vil em frase chula. Lembrava-me a gritaria, Que faz a corja a quem passa, Loucamente misturando O prazer com a desgraça.
Página 228 - Contam que certa raposa, Andando muito esfaimada. Viu roxos, maduros cachos Pendentes de alta latada. De bom grado os trincaria; Mas, sem lhes poder chegar, Disse: «Estão verdes, não prestam Só cães os podem tragar.
Página 212 - Ali a que dantes era Qual mansa pomba sem fel, Pelo exemplo estimulada, Aprendeu a ser cruel. Apenas lhe parecia Ter feito já...
Página 95 - Denominado enxovia. Fecham-me, fico assombrado Na medonha solidão, E, sem cama a que me encoste, Descanso os membros no chão. Mil terríveis pensamentos Da minha alma se apoderam : Gostos e bens deste mundo Então conheci o que eram. Nos olhos o pranto ferve, No coração cresce a dor, E com males da fortuna Se mistura o mal de amor.
Página 211 - Mas ah triste! Ah malfadado! Para que me queixo em vão ? Que espero, se contra a força De nada serve a razão?
Página 260 - Qual, cahindo-lhe aos pés, de amores cego e louco, Nas cabelludas mãos lhe apresentava um coco, Qual do assucar brilhante a sumarenta cana, E qual um ananaz, e qual uma banana. Ella com riso astuto, ella com mil caretas Lhe entretinha a paixão, lhe ia dourando as petas ; Os olhos requebrava ao som de um suspirinho, A todos promettia o mais fiel carinho ; E se algum lhe rogava especial favor, Á terna petição dizia: «Sim, senhor • ; Mas com muita esperança o fracto era nenhum.
Página 271 - Pos-se-lhe no mesmo instante Tamanho como um repolho. Certo Doutor, não das dúzias, Mas sim Médico perfeito, Dez moedas lhe pedia Para o livrar do defeito. "Dez moedas! (diz o Avaro) "Meu sangue não desperdiço.
Página 262 - Dois bichanos se encontraram Sobre uma trapeira um dia : (Creio que não foi no tempo Da amorosa gritaria). De um d'elles todo o conchego Era dormir no borralho ; O outro em leito de senhora Tinha mimoso agasalho. Ao primeiro o dono humilde Espinhas apenas dava ; Com exquisitos manjares O segundo se engordava. Miou, e lambeu-o aquelle Pelo ver da sua casta ; Eis que o brutinho orgulhoso De si com desdem o afasta.
Página 192 - Se isto vae de foz em fora, Tambem com luz diamantina, Vir raiando a matutina Eu vi nos braços da aurora, Só me falta ver agora O caranguejo d'um rio ! Ver os effeitos do cio ! Cantar modas um macaco ! A lua a tomar tabaco!

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